Doria de gari cheira a populismo antigo

  • Por Jovem Pan
  • 02/01/2017 10h00

João Doria Jr. toma café com leite vestido de gari durante varrição de ruas no centro de São Paulo

ALE VIANNA/ELEVEN/ESTADÃO CONTEÚDO AE - João Doria Jr. toma café com leite vestido de gari durante varrição de ruas no centro de São Paulo

O prefeito de São Paulo João Doria Jr. e os novos secretários que acordaram cedo para varrer as ruas da cidade na manhã desta segunda-feira (02) são garis diferentes: eles levam consigo celulares de última geração, com boa internet, postam selfies e ficam falando no Whatsapp durante o batente. Essa é mais uma ação de marketing que algo efetivo, analisa a comentarista Jovem Pan Vera Magalhães.

Menos de meia hora depois de encerrada a varrição, o Facebook do prefeito já contava com 15 fotos. Doria aparece operando o carrinho de limpeza e também posando com uma vassoura intacta e a roupa reluzente, sem nenhuma mancha.

Esse é um factoide. Esperávamos que em pleno 2017 de tantos problemas, esse tipo de ação já tivesse sido tirado de cena.

Agora, Doria ampliou a proposta e disse que em todas as semanas dos próximos quatro anos vai se vestir de gari e varrer a igreja. É provável que o prefeito cumpra a promessa, dada sua obstinação, mas a efetividade da medida é questionável.

Ele vai também dirigir ônibus, preparar merenda escolar ou fazer alguma cirurgia em hospital público? Isso cheira a populismo antigo e não combina com as próprias promessas de Doria na campanha.

Apenas no primeiro eixo, da Avenida Nove de Julho, a operação Cidade Linda prevê a implantação de 9 mil m² de sinalização, 26 mil m² de varrição, 219 novas bocas de lobo, 135 novas lixeiras. Quanto dessa parte o prefeito e os secretários realizar com as próprias mãos? Uma fração mínima. Sendo que Doria ficou boa parte do tempo tirando fotos e dando entrevistas.

Espera-se do prefeito outro tipo de coisa: o que ele prometeu na campanha, uma gestão mais eficiente e modernizante.

Promessas

Doria também prometeu zerar a fila de centenas de milhares de pacientes que esperam exames, por meio do programa emergencial Corujão, nos primeiros 90 dias de governo. Assim como esta, Doria fez outras promessas com prazos estritos e curtos, com os quais ele gosta de trabalhar.

Mas na administração pública muitas vezes esse voluntarismo esbarra em obstáculos que não dependem do prefeito, como o Tribunal de Contas do Município, que é um órgão complicado e político, e a Câmara de Vereadores, que já deu sinal neste domingo (1º) que vai continuar fazendo política à moda antiga, e não no modelo Doria – já teve um embate entre os vereadores Mario Covas Neto (PSDB) e o Milton Leite (DEM), novo presidente da Casa.

O tempo deve mostrar ao prefeito que essas ações de marketing são muito efetivas na iniciativa privada, em um programa de TV, em um grupo empresarial como o Lide, ao qual ele sempre esteve à frente, mas na Prefeitura são secundárias. Podem gerar fotos de primeira página, mas no longo prazo não geram popularidade ou resultados.

Recado

Doria terá que fazer política à frente da Prefeitura e o recado veio de seu principal padrinho, Geraldo Alckmin, durante a cerimônia de posse. O governador lembrou o discurso de posse de Mário Covas na mesma Prefeitura em 1983, que fazia um paralelo entre a política e a cidade. Ele repetiu o jargão “a política, assim como a cidade…”, para mostrar a Doria de um modo cortês, de aliado, que a política não é de toda deletéria.

Se feita com princípios e às claras, a política é um instrumento necessário para fazer gestão pública. Afinal um gestor público é antes de tudo um político: ele se filia a um partido, disputa uma eleição e recebe votos. Ele não é um CEO colocado ali por questões somente meritórias ou de currículo.

O prefeito vai, sim, ter de se haver com a política – e já fez isso, quando apoiou um candidato que não era de seu partido pois viu que assim teria uma governabilidade mais tranquila na Câmara. Doria já está fazendo política apesar do discurso não político.

Vilanizar a política não ajuda em nada, não é educativo nem verdadeiro.

Haddad                                       

O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) estava muito incomodado de ser mero coadjuvante na cerimônia de transmissão de cargo no Theatro Municipal.

Em seu discurso o petista adotou um tom meio irônico, meio paternalista e meio acadêmico.

Foi irônico ao falar que vestia uma gravata que recebeu do prefeito novo, “a mais bonita” que já recebeu da vida.

Começou o paternalismo quando disse ter feito a transição “como a um irmão”, como se ensinasse Doria a governar.

Então começou a mostrar sua visão acadêmica, citando as dificuldades de se governar uma cidade como São Paulo, “fenômeno urbano único do mundo”, as diferentes entre as várias regiões, sendo que o próprio petista foi muito mal votado na periferia. Haddad deu conselhos a Doria.

Haddad parece ter entendido muito pouco o que aconteceu com ele. Já deu várias entrevistas desde que perdeu o pleito, culpou a conjuntura internacional e a nacional pelas suas promessas não cumpridas, citou o fenômeno que elegeu Donald Trump, só  não fez nenhuma autocrítica da própria gestão.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.