Emissários de Marina conversam com clientes do Bank of America

  • Por Jovem Pan
  • 10/09/2014 11h39

Reinaldo, nesta segunda, emissários de Marina Silva falaram a mais de 500 clientes do Bank of America, um file-mignon do setor financeiro. Você sabe o que eles disseram lá ?

Sei sim, e revelo com exclusividade aqui na Jovem Pan. Marina mandou o que chama seus “vocalizadores” para falar no encontro promovido pelo Banco. São eles: Walter Feldman, João Paulo Capobianco; André Lara Resende; Maurício Rands; Beto Albuquerque e Basileo Margarido.

Tratou-se, sem dúvida, de um troço bem “sonhático”, o neologismo com que Marina pretende conciliar sonho e pragmatismo. Alguém quis saber sobre o compromisso anunciado pela candidata com inflação e juros baixos. Coube a Lara Resende responder. Inflação, disse, é um sintoma. E começará a ser atacada pela parte fiscal para forçar a queda dos juros. Tá. E os preços administrados represados? Ele respondeu que é um absurdo o estímulo aos combustíveis fósseis. Os que o ouviram saíram de lá com a impressão de que ele defende um tarifaço de cara para retomar a credibilidade.

Os “vocalizadores” de Marina também acham que o câmbio está valorizado de maneira artificial, e se supõe, então, que a turma pretenda trabalhar com um dólar mais fraco e um real mais forte. Não se sabe se o mesmo discurso seria empregado com empresários do setor produtivo ligados à exportação, por exemplo. Este tenderia a ficar assustado.

Os “sonháticos” acreditam que a reforma política é a “mãe” de todas as reformas, mas pretendem começar com a tributária, que simplifique a área, o que seria feito aos poucos, de forma fatiada. Eles também declararam a sua adesão incondicional ao tripé macroeconômico: metas fiscais, de inflação e câmbio flutuante.

No primeiro ano, eles dizem, a meta de inflação poderia ser um pouco maior do que os 4,5%, mas sempre declinante. O empresariado seria ainda convocado para uma espécie de mutirão da infraestrutura, e a categoria deixaria de ser “tratada como bandida”. Falou-se até em rever a postura “perversa e autoritária” da Receita Federal. Ah, sim: como eles gostam duma reunião, seria criado um “Conselho de Responsabilidade Fiscal”, com vários setores da sociedade. E na política?

Bem, nessa área o bicho pega, e a coisa vai ficando nebulosa, mas todos já estavam encantados com as promessas na área econômica. O negócio é o seguinte: os “sonháticos” acreditam que a vitória de Marina vai acarretar uma profunda reestruturação partidária no país. Não! Ela não estaria preocupada nem com o PSB nem com a Rede. Apelaria, para usar uma expressão lá empregada, a um “banco de reservas” do PT, do PSDB e de outros partidos. Querem fazer uma reforma política com unificação das eleições, mandatos de cinco anos e fim da reeleição para cargos executivos.

Afinal, eles asseguram, na “nova política”, as ferramentas são as mesmas, mas o jeito é outro. Os “vocalizadores” indagaram por que não poderiam escolher os quadros pelo currículo, em vez de falar com o Sarney. Para isso, pretendem criar um tal “Comitê de Busca dos Homens de Bem”, expressão que foi empregada pela própria Marina na sua visita a Minas, nesta segunda. Isso seria sair da “democracia 1.0 para a democracia 2.0”.

A turma quer fazer as reformas política, tributária, fiscal, da Previdência e do Estado. Mas com que Congresso? Walter Feldman assegurou que diversos parlamentares já procuram os “marineiros” em nome dessa relação programática e que será criada uma frente suprapartidária. Talvez não se dando conta exatamente do que falava, Beto Albuquerque, o candidato a vice, lembrou que o “baixo clero” sempre se aproxima de quem vence… Nem diga!

No mais, darão, sim, importância ao pré-sal; saberão compatibilizar ambientalismo com agronegócio; pretendem fixar metas para cada área; querem um Estado como protagonista da saúde, educação e segurança ― para o resto, contam a com a iniciativa privada ―; educação pública em tempo integral e melhoria do SUS, com correção das ineficiências. Nesse paraíso, só ficam faltando, como se vê, a cobra e a maçã. Ou será que não?

Todos saíram de lá muito impressionados e achando que Marina, se eleita, será “pró-business”. Houve quem afirmasse que a conversa lembra, assim, uma “Terceira Via” à moda Tony Blair: amigo dos mercados, mas com um sotaque social.

É. Em 1997, Blair pôs fim a 18 anos de governo conservador na Grã-Bretanha. Em 1995, na liderança do Partido Trabalhista, ele fez mudar o conteúdo da famosa Cláusula IV, que havia sido redigida em 1917, ano da Revolução Russa, e que compunha o programa do partido desde 1918. A original afirmava que os operários só seriam donos de seu trabalho e dele poderiam usufruir plenamente com o fim da propriedade privada. Isso acabou.

Ou por outra: Blair mudou o programa do partido, fortaleceu-o, disputou eleições e venceu. Do outro lado, estavam os conservadores não menos fortes e organizados. O plano de Marina, como a gente vê, também expressa uma conversão aos valores de mercado ― e isso é bom! ―, mas os seus “vocalizadores” dizem que ela vai governar com os bons, apelando a um Comitê de Busca dos Homens de Bem e apostando numa profunda reorganização partidária. Pretende, assim, fazer aquela penca de reformas.

Eu, que sou apenas um ucraniano preocupado, pergunto: alguém já combinou com os russos?

 

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