Erdogan e o clubinho dos homens-fortes

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 22/04/2017 08h42
Reprodução/The Telegraph Minha membresia foi renovada

Esta semana, vi um cartoon no jornal britânico Telegraph, que por sinal é conservador, mostrando o presidente quase ditador da Turquia Recep Erdogan todo saltitante, entrando numa sala com retratos de Trump, Putin, o chinês Xi Jinping, o aiatolá Khamenei, o sírio Assad e o norte-coreano Kim Jong-un. Na espreita, na porta da sala, está Marine Le Pen, que ambiciosa a presidência francesa na eleição que vem aí, primeiro turno no domingo.

Erdogan anuncia que teve sua carteirinha de sócio renovada, agora que venceu no sufoco, e sob acusações de fraude, o referendo pela expansão dos poderes presidenciais. Eu não sou chegado a Donald Trump, mas acho um exagero seu retrato nestas galeria de déspostas em escalas variadas. No entanto, o presidente americano foi lépido para dar os parabéns a Erdogan, enquanto o seu próprio Departamento de Estado mostrou-se comedido.

Trump é chegado em homens fortes (e aqui não faço piadas sobre sua intimidade com partes genitais de mulheres). E o retrato no cartoon do jornal Telegraph diz que o clubinho do Erdogan não é tanto de ditadores, mas de uma “sociedade beneficente internacional por um mundo mais seguro e estável”.

É clichê de homem-forte (e de mulher também) de que somente ele pode salvar e estabilizar o país. O homem-forte tem pressa e se preciso as outras instituições devem ser atropeladas. E Erdogan foi longe e fundo, como um rolo compressor.

Com a vitória no referendo, ele expandiu os seus já extensos poderes, iso depois de esmagar boa parte da oposição, fazendo um expurgo de 130 mil pessoas na sequência do fracassado golpe militar de julho passado. Antes do referendo, Erdogan já havia amordaçado a boca da imprensa e atrofiado a autoridade do Legislativo e do Judiciário.

Erdogan governa há 14 anos, como primeiro-ministro e presidente. As frescuras constitucionais acabaram para o homem-forte e podemos vislumbrar ele no poder pelo menos até 2029.

De um lado, foi vexaminoso para Erdogan que ele tenha vencido de forma bem apertada e talvez fraudulenta. Nosso camarada Vladimir Putin não se permitiria a este cochilo de vitória no sufoco.

No entanto, o resultado do referendo foi um triunfo para uma forma iliberal de democracia, na qual um líder carismático não recorre a um golpe escancarado e sim a rituais democráticos para conseguir fortalecer o seu poder. Erdogan está à vontade para desembestar com seu pendor autoritário, que já era patente antes da vitória de domingo.

Erdogan não está sozinho. O professor americano Larry Diamond, um dos grandes estudiosos de democracia no mundo, observa que o autoritarismo está cada vez mais enraizado em algumas não democracias e muitas democracias estão ficando menos democráticas.

Infelizmente, cresce o clubinho que acaba de renovar a carteirinha de Erdogan.

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