FHC: Dia em que um homem brilhante erra. Ou: vale a Constituição!

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 04/04/2017 11h24
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso participa de debate sobre Reformas da política global sobre drogas: impactos na América Latin, organizado pela Open Society Foundations (Tânia Rêgo/Agência Brasil) Tânia Rêgo/Agência Brasil Fernando Henrique Cardoso - Ag Brasil

Eita, esse Fernando Henrique Cardoso!!!…

Aquele que é um dos homens mais inteligentes e cultos que a vida pública produziu, sociólogo notável, com contribuições indeléveis à área, fala, às vezes, sem atentar para as consequências do discurso.

Por que isso?

Em uma entrevista à CBN, afirmou que uma eventual eleição indireta para presidente, para que se cumpra o mandato atual, que expira no dia 31 de dezembro de 2018, iria gerar “mais confusão”.

Pois é. Então falemos de mais confusão ou de menos.

Em primeiro lugar, cumpre notar que a eleição indireta não é uma invenção das elites políticas nem uma tramoia. É o que prevê a Constituição do Brasil, como sabe o ex-presidente.

Se prevê, parece-me não haver outra saída que não seguir a ordem legal.

Até porque, na hipótese de impedimento de Temer, se a eleição não fosse indireta, só poderia ser… direta. Bem, dada a situação, dada a miséria em que se encontra a chamada “classe política”, dado um movimento de reerguimento da esquerda… Dado isso tudo, seria uma boa escolha antecipar as eleições?

Ocorre, e isto é melhor, que não há escolha, caríssimo presidente Fernando Henrique Cardoso. Há um mandamento constitucional, que está no parágrafo 1º do Artigo 81 da Constituição. Havendo a vacância, nos dois anos finais do mandato, do vice que assumiu a Presidência, o Congresso deve eleger novo titular e novo vice em 30 dias.

E por que não se antecipam as eleições diretas? Bem, além de tal procedimento ignorar o Artigo 81, há mais: o 60, que trata das cláusulas pétreas, veda a mudança da data da eleição.

É evidente que FHC pode dizer o que lhe der na telha. É livre para isso. Na área das ciências humanas, creio que nenhum brasileiro chegou tão longe na sua especialidade. Foi presidente da República duas vezes, com feitos notáveis para o país. O maior de todos foi ter implementado o Plano Real.

Aliás, se formos fazer um resgate da história intelectual, política e econômica do Brasil recente, Lula começou a levar o país para o abismo quando cravou a expressão vigarista “herança maldita” para se referir aos oito anos de mandato tucano. Ao contrário: herança bendita! Não fosse o Real, seríamos hoje um Sudão, o do Sul, de dimensões continentais.

E o Real, todos sabemos, se fez e foi implementado contra a vontade do PT, que chegou a recorrer ao Supremo para impedi-lo.

Aportando no poder, em 2003, Lula usou todos os instrumentos que o plano lhe facultava, ate exagerou na ortodoxia, surfou nos feitos do antecessor, que passou, não obstante, a ser demonizado e tratado como símbolo de um país “das elites” contra “o país do povo”, o que é de uma canalhice intelectual ímpar.

Parte da exacerbação meio  “burralda” que anda por aí decorre justamente deste “nós contra eles”, lançado por Lula. O problema é que o “nós” dele seria composto só de pessoas decentes, acima de qualquer suspeita, que cumprem as leis e fazem tudo em benefício do povo.

E aí se descobre que o partido estava no topo do comando da maior ladroagem contra os cofres públicos jamais praticada no país.

Quase um mártir
Esse FHC que enfrentou essa máquina maligna de desqualificação tem de ser visto quase como um mártir. A exemplo deste, também ele leva pancadas injustas dos estúpidos de direita e de esquerda.

Mas nem a alguém assim darei a licença para que sugira um arranjo, caso Temer venha a ser cassado, que desrespeite a Constituição.

Se isso acontecer, a eleição será indireta e pronto! Em  nome da lei, do estado de direito, da democracia.

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