Nêumanne considera aposentadoria de José Sarney “um marco”

  • Por Jovem Pan
  • 25/06/2014 17h32

Nêumanne, será que tava na hora mesmo do ex-presidente José Sarney parar? E qual é a importância disso, dessa aposentadoria não muito precoce do presidente?

José Sarney decidiu que não se canditará mais e disse isso a Dilma Rousseff e seus aliados. Com 84 anos de idade e 60 na política, ele alegou que sua mulher, dona Marli, tem problemas de saúde e ele precisa ficar ao lado dela, e que já está velho para atuar na política.

A aposentadoria de Sarney é muito importante na política brasileira, porque o Sarney representa um lado frequentemente vencedor na política brasileira, que é o lado do conservador que se finge de revolucionário, de reformador, no mínimo, como aquele famoso príncipe Salina, o personagem protagonista do Il Gattopardo, o grande romance de Giuseppe Lampedusa, o autor italiana, que dizia que é preciso que a classe conservadora mude alguma coisa para evitar que as outras mudem. É por aí.

O Sarney, ele foi da banda de música da UDN, que era um grupo reformador de um partido conservador e se elegeu combatendo um grande líder político do PSD em seu Estado, sob cujas asas ele cresceu, que era o Vitorino Freire. Como governador do Maranhão, ele tomou posse e contratou o cineasta Glauber Rocha, gênio do Cinema Novo Brasileiro, para fazer um documentário sobre sua posse.

Maranhão 66 é um clássico do cinema, não tanto por ser um documentário, mas por ser um filme profético. Glauber Rocha filmou o discurso de Sarney denunciando as mazelas do adversário e anunciando e prometendo mundos e fundos, e cada ano em que vemos o filme, vemos que o Maranhão continua ou na mesma situação ou pior, sob o domínio da casta Sarney.

Mas Sarney – que mantém a filha Roseana, governadora, senadora, etc – ele próprio tem uma trajetória nacional. Ele foi presidente da República, ele era o vice do Tancredo porque ele era o presidente do partido que dava apoio à ditadura militar, mas, na sucessão do último presidente militar, João Figueiredo, houve uma dissidência que tornou viável, exequível, a eleição de Tancredo Neves do PMDB para o lugar do Figueiredo. Sarney foi o vice, Tancredo, como se sabe, adoeceu gravemente, morreu já no começo do governo dele e ele cumpriu o mandato inteiro e, sob sua égide, se fez a Constituição que está em vigor.

Nós vivemos num Estado Democrático de Direito numa Constituição que foi produzida na sua época na presidência. Depois que saiu da presidência, se elegeu várias vezes pelo PMDB do Amapá, não do Maranhão, e é hoje um chefão do partido que é o partido em segundo lugar na coligação governista, que é chefiada pelo PT da presidente Dilma.

Sarney não está vivendo seu declínio político, está realmente velho; a mulher realmente precisa de sua companhia, mas ele também foi vaiado ao lado de Dilma […], o que mostra que não seria muito fácil a sua reeleição. De qualquer maneira, é um marco essa sua aposentadoria.

 

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