Traição pode ter consequência cara para Juan Manuel Santos

  • Por Jovem Pan
  • 26/05/2014 09h56

Reinaldo, porque você diz que a traição pode custar caro ao presidente da Colômbia?

Explico. O país realizou eleições presidenciais neste domingo e vai ao segundo turno no dia 15 de Junho. O candidato do centro democrático, Oscar Ivan Zuluaga, obteve 29,6% dos votos. E o atual presidente, Juan Manuel Santos, que chegou em segundo lugar, 25,68%. A chance de Santos ser derrotado é enorme, tomara que aconteça. Quem olhasse para a Colômbia de quatro anos atrás jamais apostaria no cenário que aí está, porque?

Álvaro Uribe foi eleito pela primeira vez em 2002 e se reelegeu em 2006. É o homem que tirou a Colômbia do caos, foi ele quem organizou o embate contra as Farc, que nunca foi tão pequena, embora reúna ainda alguns milhares. Estima-se que o contingente esteja entre 6 mil e 8 mil cabeças.

Seus principais líderes foram mortos pelo exército colombiano, e só por isso o país conseguiu respirar, embora ainda tenha pedaços da selva sob o controle dos narcoterroristas e narcotraficantes.

Um país que estava à beira da desconstituição passará a ter, segundo o FMI, o segundo PIB nominal da América do Sul no ano que vem, superando a Argentina. E o terceiro da América Latina, atrás apenas do Brasil e do México.

Muito bem, que pôs a Colômbia nessa rota? O nome dele é Álvaro Uribe, o presidente que quebrou a espinha das Farc e que tentou uma manobra para ser candidato à reeleição uma segunda vez em 2010, mas a Corte Constitucional do país o impediu.

Ele lançou então seu ministro da Defesa como nome para sucedê-lo, uma eleição que era uma barbada. E esse ministro era justamente o atual presidente, Juan Manuel Santos, que faz uma gestão tecnicamente virtuosa. A Colômbia legal é um país razoavelmente arrumado.

Acontece que Santos decidiu ensaiar voo próprio e se desligar de Uribe, e esse pode ter sido seu erro. Aquele que a serviço do “uribismo” conduziu com mão de ferro a luta contra as Farc decidiu iniciar negociações com os narcoterroristas. Em linhas gerais, seu plano é levar as Farc para a legalidade. Os bandidos deporiam armas e passariam a disputar eleições, depois de uma ampla anistia.

Na sua configuração atual, as Farc existem desde 1964, é o mais antigo grupo dessa natureza em atividade no continente. Segundo a ONU, atenção, perto de 600 mil pessoas já morreram em decorrência de suas ações criminosas e mais de 3 milhões ficaram desabrigadas porque tiveram de deixar suas propriedades e povoados.

As conversações com as Farc acontecem em Cuba. Setores crescentes da sociedade colombiana se opõe á proposta do presidente. Os que  votaram em Santos em 2010 não o fizeram para que ele agora firmasse um acordo de paz com a canalha, com a mediação cubana.

Ao contrário, votaram no então ministro da Defesa, que desferiu duros golpes nos facínoras. Ele resolveu dar uma “passa moleque” nesse eleitorado e em Uribe, que não teve dúvida, fez um outro candidato. Com o apoio do ex-presidente, Oscar Ivan Zuluaga passa a ser o favorito. Santos, que faz um bom governo, pode pagar um preço alto pela traição política.

 

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