A Venezuela é uma “mancha moral” no continente
Não vou falar do Brasil, vou falar de coisa pior, aquele vizinho que começa com a letra V. Ao longo da semana passada, li muito sobre a Venezuela nos principais órgãos da imprensa americana. No breaking news. Mais um raio x de degradação, desolação e desesperança.
Basta ver o título de uma reportagem-ensaio de duas páginas na edição de fim de semana do Wall Street Journal: “A virada sinistra da Venezuela”.
O texto enfatiza que o país que já foi um dos mais ricos da América Latina hoje amarga o colapso das instituições democráticas, descambando para níveis de doença, fome e disfunção mais frequentemente vistos em países assolados por guerra civil.
Não é à toa que em prognósticos mais alarmistas, alguns acreditam que o socialismo do século 21 prometido por Hugo Chávez vai se concretizar em uma Síria. Por ora, são mais de 70 dias de protestos que confirmam a coragem e o sacrifício de uma população esgotada com o estado de coisas.
Dos intestinos do chavismo, surgem alguns sinais de empenho para impedir a degringolada total. Um exemplo é a procuradora-geral Luisa Ortega. Seu cargo é semi-independente e ela aproveita para ser uma voz de denúncia dos excessos do desgoverno de Nicolás Maduro, seja na violação dos direitos humanos, seja no plano para aprofundar o autogolpe com a convocação de uma Assembleia Constituinte.
Luisa Ortega não é a nova heroína da resistência, mas a oposição aposta algumas fichas em alguma negociação com gente como ela para tentar organizar uma transição que não seja para o precipício. O drama à beira do abismo é que até agora não existem deserções em escala decente no aparato militar e de segurança capazes de virar o jogo.
Tudo é tão desolador que sequer se consegue uma firme resposta hemisfério à virada sinistra. Na semana passada, a OEA não conseguiu dar uma resposta de condenação ao crescente autoritarismo do governo Maduro, ao não alcançar o número mínimo de 23 votos devido ao boicote de paisecos bolivarianos e abstenção de caribenhos que ainda recebem subsídios do famigerado chavismo.
Na expressão do Financial Times, a Venezuela é uma “mancha moral” no continente.
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