Vila Madalena se transforma na Cracolândia dos ricos

  • Por Jovem Pan
  • 10/07/2014 11h46

Reinaldo, há um grande alarido na imprensa porque a Vila Madalena, em São Paulo, se transformou numa zona livre de comércio e tráfico de drogas. Por que você diz que o bairro virou a cracolândia dos ricos?

Vou explicar. Olá, internautas e amigos da Jovem Pan.

A imprensa brasileira, ressalvadas algumas exceções, não deixa de ser curiosa. É escancaradamente favorável à legalização ou à descriminação das drogas, mas faz ares de escândalo quando constata que a Vila Madalena, bairro da Zona Oeste de São Paulo, se transformou numa área livre para o tráfico. Os bandidos oferecem aquilo que o consumidor desejar aos gritos, nas ruas. A Secretaria de Segurança Pública resolveu aplicar a política da “Tolerância Cem”. Não quer comprar briga com a imprensa. Acha preferível a notícia de que a polícia deixa de cumprir a sua função à acusação de que, sei lá, agiu de modo autoritário ao reprimir o tráfico e o consumo, ambas práticas ilegais. E que não se acuse a PM de negligência. Está cumprindo ordens. Ordens ruins, equivocadas.

No dia 2 de Julho tratei do assunto no editorial no programa Os Pingos nos Is. Peço licença para lembrar o que afirmei:

Na Cracolândia, não valem as leis do Código Penal. Na Vila Madalena, também não. Na Cracolândia, não vale a Lei Antidrogas. Na Vila Madalena, também não. Na Cracolândia, o Artigo 5º da Constituição, que assegura direitos fundamentais ― entre eles, o de ir e vir ― não tem vigência. Na Vila Madalena, também não. Na Cracolândia, os moradores reais da região não têm como reivindicar seus direitos. Na Vila Madalena, também não. Na Cracolândia, tudo é permitido, menos cumprir a lei. Na Vila Madalena, também. Na Cracolândia, os proprietários viram o seu patrimônio virar pó; na Vila Madalena, também. Na Cracolândia, a via pública serve de banheiro ou de motel. Na Vila Madalena, também.”

Então qual é a diferença entre a Cracolândia e a Vila Madalena: o preço que se paga para frequentar uma e outra; o estrato social de seus frequentadores; os produtos que se vendem nas ruas.

A Vila Madalena é um bairro ainda majoritariamente residencial, com uma forte presença de bares, lojas que fazem a linha despojado-chique e ateliês de artistas. É, sem dúvida, uma das áreas boêmias mais conhecidas da cidade. E não se pode dizer que, por ali, o apreço pelas leis seja o hábito número um.

A Copa do Mundo, no entanto, transformou a região numa sucursal do inferno, ao menos para os milhares de moradores. Desde o dia do jogo inaugural da Copa, ficou evidente que o poder público havia perdido o controle sobre a região. E, daquela data até agora, tudo tem piorado.

O prefeito Fernando Haddad diz que algo precisa ser feito. É mesmo? À Folha de São Paulo, ele afirmou: “Eu estou pedindo ao secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto Porto, que está à frente desse processo, repactuar para que não haja novos incidentes”.

Quem? Roberto Porto? O mesmo que responde pela, digamos, segurança justamente da… Cracolândia? Aquele mesmo que, na visita do príncipe Harry àquele outro pedaço do inferno, comentou: “Pelo contato que tive, que foi limitado, ele gostou do que viu. Ele quis saber a lógica de se ter um local monitorado, com as pessoas continuando a venda de crack”. Ou por outra: o secretário admitiu que o rapaz se interessara por uma experiência de descumprimento contumaz da lei pelo poder público.

Saibam: não há incompatibilidade nenhuma entre a alegria e o cumprimento das leis democraticamente pactuadas. Até porque, é o cumprimento das regras que assegura a liberdade. Ocorre que, seja na Cracolândia, seja na Vila Madalena, a gestão do sr. Fernando Haddad entende que a liberdade e alegria são sinônimos de desordem, de anarquia, da completa ausência das leis.

Cadê toda aquela conversa mole sobre a legalização ou descriminação das drogas? Querem saber como será o país se isso acontecer um dia? Olhem para a Cracolândia. Querem saber como será o país se isso acontecer um dia? Olhem para a Vila Madalena. Depois, é só abismo a nos contemplar.

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