Editorial – Olimpíada: uma abertura grandiosa, competente, com laivos de populismo e demagogia

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 08/08/2016 14h47
EFE Confira a abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 em imagens

Ainda que com atraso, comento a festa de abertura de Olimpíada. Fiquei de fazê-lo antes, mas tive um fim de semana com algumas tarefas de ordem pessoal. Vamos lá. Não digo nenhuma novidade ao afirmar que se fez um evento grandioso, competente, bonito.

O roteiro, sejamos claros, era bastante convencional, seguindo o que é uma tradição nossa: lembrava o samba-enredo de uma escola de samba, mas com menos arbitrariedades. A narrativa foi muito mais sóbria.

Não há nada de espetacular ou especialmente criativo em contar a história do Brasil a partir da miscigenação original de índios, brancos e negros, com o concurso posterior de outros povos, simbolizados, no caso, por imigrantes árabes e japoneses.

Também as fases do desenvolvimento econômico e social, incluindo o urbanístico, obedeceram ao convencionalismo, sem voos de imaginação. A diferença, aí sim, estava na cenografia primorosa, na mistura inteligente de cenários virtuais e reais, nas soluções, algumas verdadeiramente encantadoras, para contar a história.

Cito grandes momentos: a geometria inicial dos elásticos, a ocupação das terras brasileiras traduzida num formidável jogo de luzes, a cultura do morro expressa por meio de uma linguagem pop que lembrava história em quadrinhos, a espetacular Gisele Bündchen desfilando sobre traços de Niemeyer; o movimento das caravelas, o voo do 14 Bis ao som de Tom Jobim…

Sim, mais de uma vez, o roteiro esbarrou numa forma particularmente perversa de convencionalismo, que é a poetização da miséria e do precário. Isso é sempre chato. Lá estava o “morro”, fazendo-se, como costumo dizer, de “o outro antropológico”. Zeca Pagodinho seria a sua expressão direta; Marcelo D2, seu aggiornamento… E, para evidenciar que era equívoco dos brabos, apareceram Regina Casé e a ficção integracionista do “Esquenta”.

Isso, como argumento, é chato, falso e bobo. Mas, reitero, a linguagem amenizou o clichê, assentado na tese de que “o nosso feio é bonito porque fazemos essa gente alegre”. Entendo: os intelectuais e artistas brasileiros adoram expor a sua consciência culpada. Mas nem essa patacoada comprometeu o conjunto.

Abriu-se ainda espaço para a discurseira aborrecida e, para dizer pouco, controversa sobre o aquecimento global, com afirmações peremptórias endossadas por uma parcela apenas de cientistas. Aquelas animações indicando a elevação do nível dos oceanos, inundando países, é parte das teorias escatológicas do aquecimento global que estão bem longe de ser consensuais. Nesse caso, linguagem nenhuma conseguiu salvar o papo-cabeça. Foi apenas chato.

Mas insisto: esses momentos de besteira e populismo antropológico não comprometeram o conjunto. A abertura dos jogos do Rio será lembrada por muito tempo como exemplo de criatividade e beleza.

Para encerrar
Beirou o patético, tomada a coisa isoladamente, a apresentação do trio Caetano Veloso, Gilberto Gil, Anitta, com Ary Barroso ganhando o estádio na base do playback, Fiquei com vontade de fazer um pequeno cartaz com “Fora Caetano”.

Ainda bem que Paulinho da Viola tinha dado a sua aula de economia, eficiência e talento ao cantar o “Hino Nacional”. Sem fazer demagogia. Sem pedir a cabeça de ninguém.

Afinal, era uma solenidade para o país.

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