Editorial – Temer ano 1: Ele não errou, mas os antipetismos só fazem asneiras

  • Por Reinaldo Azevedo/ Jovem Pan
  • 15/05/2017 14h15
EFE Michel Temer - efe

No primeiro aniversário do governo Michel Temer, que assumiu a Presidência em 12 de maio de 2016, 12 colunistas da Folha definiram os aspectos em que o presidente tem se saído bem e escolhem quais os pontos em que sua gestão, até agora, decepcionou. As opiniões estão na edição deste domingo do jornal.

Sou um dos 12. As opiniões estão aqui.

O jornal pediu que se apontasse em que o governo “foi bem” e em que “foi mal”. Sei que a minha resposta surpreendeu a alguns. E me permito falar um tanto a respeito. Ela segue abaixo:

ONDE FOI BEM
A equação é a sentença matemática formada por duas expressões algébricas relacionadas por um sinal de igualdade. Ela tem uma ou mais incógnitas e valores determinados. Quando Temer assumiu, pensei: “Há incógnitas demais!” Descobri ainda que a equação era inconsistente: a igualdade não existia. Não há valores para as incógnitas. Em termos conceituais, o governo é impossível. E, no entanto, a inflação e os juros caíram, há teto de gastos, investimentos estão voltando, as reformas avançam, o Executivo respeita as instituições. O presidente era, na verdade, a incógnita única. Ele só não pode ser seduzido pelo excesso de conciliação. Rodrigo Janot num terceiro mandato, por exemplo, à frente da PGR seria um erro. O Brasil precisa de mais respeito à institucionalidade, não de menos

Até agora, Temer não errou.

Retomo
Como? Que história é essa, Reinaldo, de “até agora Temer não errou”? Pois é…

Um sujeito escreveu um troço malcriado, tentando me contestar. Sabem como são esses pensadores de Facebook. Primeiro atiram. E então perguntam… Na parte publicável, escreveu: “Nem o Temer diria isso do próprio governo”. É, é bem provável que não. Imagine se, uma vez indagado, um governante dissesse: “Não errei em nada”. A frase iria persegui-lo para sempre.

Mas por que não vejo erro? Porque, como lá vai claro, acho que ninguém, a não ser Temer, conseguiria, com os ingredientes que conta, governar o país. É impressionante que um Congresso perseguido pelas esquerdas e pela direita xucra tenha acatado o teto de gastos.

Esse mesmo Parlamento, apesar da patrulha feita pelos extremos, deve aprovar, notem como escrevo, “uma” reforma trabalhista e “uma” reforma da Previdência. Nos dois casos, vai-se fazer bem menos do que seria necessário, mas se vai avançar.

Com Temer, o país recuperou a capacidade de reformar o sistema. E isso tudo em meio ao caos político gerado pela Lava Jato. É claro que a operação é necessária. É claro que ela exibe aspectos virtuosos. Mas não é menos verdade que, quando atua fora dos limites legais e quando faz política em vez de investigar e buscar provas, passa a investir na crise.

Mundo real
Não vou aqui contestar a opinião omitida por este ou aquele. Mas é impressionante, e decepcionante, constatar que a direita brasileira não é menos “idealista” —  e isso NÃO É um elogio — do que a esquerda. A rigor, ela pode ser muito mais. E isso é uma danação.

Acho curioso, por exemplo, que se critique Temer à direita por suas “concessões” no encaminhamento das reformas, sobretudo a da Previdência. Calma lá! A reforma não se faz por decreto-lei. A ditadura acabou faz tempo. Também não pode ser encaminhada por Medida Provisória. É preciso apelar a uma emenda, cuja aprovação demanda o endosso de pelo menos 60% dos parlamentares, com duas votações em cada Casa.

Temer não cedeu. Ele negociou. Ou me digam, afinal, qual seria a alternativa. E notem: mesmo depois de o governo ter condescendido com uma versão mais branda da reforma da Previdência, a aprovação ainda não é certa. Assim, onde alguns veem falha de Temer — ceder ao Congresso — eu vejo virtude. Ele consegue dialogar e negociar com o Poder Legislativo.

Aponta-se ainda que o governo conta com ministros investigados. Com a devida vênia, a crítica está abaixo do “idealismo”; ela apela ao irrealismo. Investigadas estão hoje as respectivas cúpulas do Congresso e dos principais partidos. Também o ministério é composto de olho na maioria parlamentar, sem a qual não se fazem as reformas.

E há quem aponte como falha o fato de o desemprego estar elevado. Um governo não pode fazer milagre. Há precondições para a retomada para valer do crescimento, que trará consigo o aumento de postos de trabalho: a reestruturação das finanças do estado. E isso, convenham, a equipe econômica está fazendo.

Queriam o quê? A política dos anabolizantes de Dilma Rousseff? Não foi ela que conduziu o país ao desastre?

Temer está fazendo o possível. E esse possível só existe porque é ele o presidente. Os sensatos deveriam erguer as mãos para o céu em sinal de agradecimento, torcendo muito para que o mandatário não perca a habilidade de ir desmontando as bombas que vai encontrando pelo caminho.

Se o presidente chegar a meados de 2018 com a inflação no centro da meta, juros civilizados (podem ir a um dígito ainda neste semestre), economia em crescimento e reformas aprovadas, terá operado um verdadeiro milagre.

Se não se fizerem as reformas agora, elas não virão depois. Ou alguém imagina, nessa hipótese trágica, algum candidato a adotar essa plataforma em 2018? Não custa lembrar que os nomes que lideram as intenções de voto são contrários à reforma: Lula, Marina e Bolsonaro. Eles somariam hoje 60% do eleitorado. Que tal?

Concluo
Até agora, com efeito, Temer não errou. Erraram, e feio, estas sim, várias correntes do antipetismo e do conservadorismo. Seu dever histórico era pressionar o governo em favor de uma agenda mais liberalizante, em parceria necessária com o Congresso. Em vez disso, muitos bobalhões se dedicam ao discurso contra os políticos e a política.

Não! Temer não abandonou a agenda modernizadora. Forças que fizeram o impeachment, estas sim, se perderam  no moralismo rombudo. Na prática, atuam para derrubar também o governo, tenham clareza disso ou não. Tornaram-se massa de manobra de especuladores e bucaneiros.

Não fosse Temer, leitor amigo, o seu inferno já estaria contratado a partir de 2018. Com ele, temos ao menos a chance de sair da selva escura.

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