Os extremos de Tite

  • Por Mauro Beting/Jovem Pan*
  • 25/04/2018 11h35 - Atualizado em 12/09/2018 14h23
Filip Singer/EFE Douglas Costa, alemanha, brasil Douglas Costa foi bem nos últimos amistosos da Seleção e tem tudo para ser convocado à Copa

No Corinthians, no começo de 2015, Tite pensava armar um esquema com Ralf na cabeça da área, uma linha de quatro à frente, e um centroavante. A ideia inicial era começar com Renato Augusto aberto pela direita, como já atuara na Alemanha, mas flutuando por dentro, articulando entre as linhas de marcação do rival. No meio ficaria Jadson, ora dando um pé mais atrás, mais vezes chegando para armar. Fisicamente ele não estava bem no início da temporada. Por isso Tite começaria com Lodeiro no lugar de Jadson. Mas o meia uruguaio foi para o Boca. Tite teve que optar por Jadson. E resolveu colocá-lo na função mais aberta – onde não havia atuado. E resolveu segurar Renato mais atrás e por dentro – onde não havia atuado. Pronto: no final de 2015, hexa brasileiro, Tite criou os dois melhores jogadores daquele campeonato. Dando as ideias táticas para o seu antecessor Dunga, na Seleção.

Algo um pouco parecido ao que aconteceu no início do trabalho na CBF, em setembro de 2016. Willian continuaria sendo o titular da Seleção pelo lado direito da armação e ataque como já vinha sendo com Dunga. Seria o meia aberto pelo lado. O externo. O extremo. Para não dizer um ponta mesmo no 4-1-4-1 inicial de Tite (e que Dunga também tentara implementar, baseado no próprio Corinthians de 2015).

Mas Willian não vivia o melhor momento no recomeço da temporada europeia. E ainda tinha questões familiares. Tite optou por abrir por ali P. Coutinho, que joga demais, mas não jogava a partir da direita. A ideia do treinador era fazer com que ele flutuasse a partir da direita e articulasse. Como Jadson em 2015.

Do outro lado, mais incisivo, Neymar seria o mais agudo. Como Malcom no BR-15 corintiano.

Assim se fez. Naturalmente, com muito mais qualidade. E o ajuste natural de Gabriel Jesus saindo do comando de ataque para recompor pela esquerda sem a bola, liberando Neymar para ficar por dentro para a retomada no ataque, com menores obrigações sem a bola.

Para ter o melhor de Coutinho, Tite ouviu Klopp e entendeu que ele também poderia ajudar de outra forma. Mais ao centro, entre as linhas de defesa e meio rivais, para que Willian virasse alternativa muito mais real que em 2014 pela ponta direita. A amizade e lealdade dos dois, Coutinho e Willian, encantou o treinador brasileiro de cara.

Com Willian mais agudo e aberto, com Coutinho articulando mais por dentro, Tite teve desde o início o que não conseguiu obter com Douglas Costa. Ou por lesão ou por perda de espaço e ritmo no Bayern. Um ponta com potencial para ser titular só não perdeu as chances entre os 23 pela confiança do treinador. Tite o chamava até quando ele não estava tão bem. Durante os primeiros meses, Tite pensava em Douglas como o ponteiro pela direita, para fazer diagonais e aproveitar sua ótima batida de esquerda e o instinto de gol que ajudou Dunga em muitos momentos. Mas quando Douglas foi pra Juventus e voltou a jogar muito, e também atuando por dentro como meia-atacante, ele voltou ao grupo para ficar. Merecidamente estará na Copa. Com bola para ser titular em qualquer um dos lados. E até para jogar por dentro como atuou muito bem pela Juventus. Melhor até do que a encomenda. Tite apostou nele até quando não merecia. E Douglas correspondeu. Mesmo nem sempre tendo dificuldade para cumprir mais funções táticas possíveis.

Taison explodiu em 2009 com Tite, aberto pela esquerda. Na Ucrânia aprendeu a também atuar por dentro. Não comprometeu na Seleção. Foi chamado mais vezes do que mereceu. Mas está longe de ser o cara para atuar como opção aos outros nomes listados. Como também poderia ser o próprio Malcom, talvez tivesse merecido um chamado Richarlison, como em breve será lembrado David Neres. Sem contar essa grande geração talentosa sub-18 de Vinicius Jr., Rodrygo e Paulinho.

Se, como já foi dito no post anterior, o treinador ainda não achou a escolha ideal para ser o meia de articulação (uma das cinco dúvidas dele até o chamado final em 14 de maio), poderiam crescer as chances de Luan, melhor jogador da Libertadores-17. Mas Tite ainda não vê a melhor posição para ele na Seleção. Discute a intensidade e estilo de jogo do gremista. E não deverá confiar em quem eu convocaria pela qualidade e versatilidade. Para jogar por dentro atrás do atacante. Para jogar como alternativa pelos lados. E também como opção de comando de ataque, como o falso 9 possível.

A comissão técnica avalia que falta mais intensidade e força a Luan. Também para acompanhar os laterais rivais. E que não pode criar um esquema para ele atuar como tem liberdade conquistada no Grêmio que tanto conquista desde 2016.

Dudu e Robinho foram chamados em janeiro de 2017 para o amistoso contra a Colômbia, quando apenas atletas no Brasil foram convocados. Robinho saiu da órbita desde então. Dudu alternou demais o desempenho, embora tenha sido convocado mais uma vez.

Wiliian, P.Coutinho, Douglas Costa e Neymar (falaremos mais sobre ele em outro post) são os meias e atacantes abertos pelos lados, os externos, os extremas, ou os pontas que estarão na Copa. Sem contestação.

Para ajudarem a conquistar uma Copa que pode ser da Espanha, da Alemanha, do Brasil ou da França.

* Colaborou Dassler Marques

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