Grávidas deixam o Brasil para fugir do vírus zika durante a gestação

  • Por Jovem Pan
  • 16/02/2016 09h39
O Ministério da Saúde confirmou a terceira morte provocada pelo zika em adultos no Brasil. Foto: Fernanda Carvalho/ FotosP Públicas Fernanda Carvalho / Fotos Públicas Aedes aegypti

 Com medo do zika vírus, grávidas brasileiras fogem até para a Ásia em busca da segurança do bebê. Os destinos mais comuns são Miami, Nova York, Portugal e França, mas médicos também relatam casos de pacientes que procuraram abrigo em Israel. O movimento é caro e para poucos, mas cresce tão rapidamente quanto o número de crianças com microcefalia no país, que já ultrapassa os 4 mil.

Algumas mulheres ficam apenas os três primeiros meses de gestação no exterior. Outras, como a paulistana Letícia França, acabam esticando a estadia com receio do bebê desenvolver a anomalia na fase final. A administradora de empresas está com 21 semanas e admite que se mudou com a filha pequena para Miami, nos Estados Unidos, em busca de paz: “Na minha família a gente chamou isso de ‘projeto zika’. Vimos se dava para fazer, quanto ia custar e quais os benefícios, além da saúde do bebê, mas também psicológicos para a mãe. Eu estava evitando sair de casa, se levava picada de pernilongo já ficava preocupada. Você não pode usufruir da sua vida normalmente para garantir que seu filho nasça com a saúde que você imagina. Após o Natal eu resolvi vir e estou desde então. Teoricamente eu deveria ir embora em março para passar a fase quase do segundo semestre completo de gravidez que é de maior risco, ninguém sabe ao certo, mas eu já estou cogitando ficar mais, até enquanto eu puder viajar de avião”.

A falta de respostas conclusivas para perguntas como “se eu pegar zika durante a gravidez, quais as chances do bebê nascer com microcefalia?” tem lotado os consultórios de obstetras nos últimos três meses.

As mulheres querem garantias que nem os médicos nem os cientistas podem dar.

E é essa insegurança que tem promovido a debandada, constata o médico Carlos Czeresnia: “A maior parte delas vai para Miami, mas tem pacientes indo para Nova York, para a Califórnia, Portugal, Israel, França. Depende das facilidades que cada uma tenha”.

Há ainda um movimento inverso, segundo Czeresnia, de mulheres que querem, mas provavelmente não vão vir ao Brasil para dar à luz: “Uma paciente minha que está nos Estados Unidos atualmente queria vir ao Brasil dar à luz, mas a preocupação com o zika é enorme”.

No entanto, lá fora há outros dilemas para serem colocados na balança.Para começar, a mulher não terá seu obstetra de confiança nem a família por perto. O acompanhamento médico da gestante é diferente fora do Brasil, menos cuidadoso e individualizado, explica o obstetra Renato Kalil, que tem ponderado a decisão com suas pacientes: “Fazer um pré-natal fora do Brasil normalmente não é um pré-natal de elite, principalmente nos exames de controle dessa gestação. Geralmente os estados norte-americanos fazem dois ultrassons durante toda gestação e não se preocupam com o ultrassom na idade morfológica. Na Europa é a mesma coisa. Alguns exames de sangue não são tão pedidos, uma pesquisa antes do parto com 35 semanas, fazer dosagem das bactérias vaginais, etc, não se dá muito valor. Fugindo de um vírus ou de um mosquito você passa a fazer um pré-natal um pouco menos controlado, menos neurótico como é o obstetra brasileiro”;

Vale lembrar que já existem casos confirmados de zika em Miami. São 2 na cidade e ao menos 18 no Estado da Flórida.

Reportagem: Carolina Ercolin

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