30 anos depois de acidente com Césio 137, sobrevivente pede investigação

  • Por Jovem Pan
  • 13/09/2017 09h16 - Atualizado em 13/09/2017 11h36
Reprodução “Eu sempre estive dentro do acidente, nunca saí dele. Eu não quero deixar que isso caia no esquecimento da sociedade”, disse o sobrevivente

Quatro mortos, 151 pacientes com grave contaminação, 1.143 pessoas afetadas e mais de 112 mil monitoradas. Trinta anos depois do acidente radioativo mais grave do Brasil, a lembrança ainda é viva.

“Eu sempre estive dentro do acidente, nunca saí dele. Eu não quero deixar que isso caia no esquecimento da sociedade”. Esse é Odesson Alves Ferreira, uma das vítimas contaminadas com o césio 137 em Goiânia.

No dia 13 de setembro de 1987 dois catadores de recicláveis encontraram um equipamento abandonado no antigo Instituto Goiano de Radiologia.

Cinco dias depois eles vendem a peça para o ferro velho do Devair, irmão do Odesson, que abre o equipamento e encontra um pó brilhante – o “brilho da morte”, como Devair classificou anos mais tarde.

A família inteira teve sequelas após o contato dos irmãos com as dezenove gramas de césio 137, que resultaram na morte da sobrinha Leide e da cunhada Maria Gabriela.

Odesson acredita que a culpa não é apenas dos donos da clínica que sabiam dos riscos, mas também das autoridades: “como que uma clínica tão importante fecha e ninguém vai lá para saber como está aquilo. Todos são culpados e nós que pagamos o preço”.

Além dos quatro médicos responsáveis pela clínica desativada ainda havia o físico Flamarion Goulart.

Em entrevista exclusiva ao Fantástico, da TV Globo, o físico garantiu que o cabeçote do aparelho de radioterapia foi lacrado e transferido para o Hospital Araújo Jorge, de Goiânia.

Mas Goulart não sabe dizer como e nem porque a máquina acabou voltando para os restos da clínica. Odesson não acredita nessa versão: “aquela fala é fantasiosa, mentirosa. Aquele aparelho nunca saiu dos escombros antes dos meninos pegarem lá”

Em 1996, os responsáveis pelo equipamento foram condenados por homicídio culposo – quando não há intenção de matar.

Dois anos depois as penas acabaram extintas, e em 2005 o crime prescreveu.

Devair, o dono do ferro velho, morreu de cirrose em 1994, e Ivo, pai de Leide, pereceu após um enfisema pulmonar em 2003.

Hoje, Odesson e Creusa são os únicos irmãos vivos, que lutam para que as autoridades estejam sempre preparadas para evitar uma tragédia como aquela.

O Ministério Público Federal de Goiás realizou um evento para relembrar o acidente e também lançar o site cesio137goiania.go.gov.br

Na página é possível encontrar o histórico dos acontecimentos, a responsabilização criminal dos envolvidos, os danos e a assistência às vítimas.

*Informações da repórter Marcella Lourenzetto

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