Após a tragédia, perplexidade e medo tomam conta da cidade de Suzano

  • Por Jovem Pan
  • 15/03/2019 06h43 - Atualizado em 15/03/2019 08h52
Roberto Casimiro/Estadão Conteúdo Para além de entender um crime que chocou a todos, a cidade de Suzano espera agora um pouco de paz

Em uma rua tranquila, no bairro Jardim dos Ipês, em Suzano, cresceram Guilherme Monteiro e Luiz Henrique de Castro. Os autores do massacre na Escola Raul Brasil eram conhecidos entre os vizinhos pela gentileza e tranquilidade.

Guilherme e Luiz viviam a duas casas de diferença um do outro. Rodrigo, que mora ao lado das famílias dos assassinos, contou que toda a vizinhança está em choque e ninguém esperava que isso fosse acontecer: “um dia antes ainda encontrei os dois aqui na esquina e quando voltei a gente até brincou sobre futebol, entrei na minha casa e foi isso”.

A dona de casa Maria da Conceição Ribeiro mora há mais de 50 anos na rua e acompanhou o crescimento dos jovens: “ninguém era bandido. Soa filhos de famílias decentes. Guilherme foi criado pelos avós com muito sacrifício. O Luiz, menino trabalhador, trabalhava com o pai”.

Segundo Maria, Luiz trabalhava como jardineiro com o pai. Ela ainda conta que Guilherme era atencioso e ajudava a criar as três irmãs.

Os vizinhos relatam que Tatiana, a mãe de Guilherme, tinha problema com drogas e passava pouco tempo em casa, por isso o garoto foi criado pelos avós.

Luiz, o mais velho, tinha um histórico de problemas psiquiátricos e os pais chegaram a levá-lo, por várias vezes, a consultas médicas.

Antes de se dirigirem a escola, a dupla foi até a loja de carros Jorginho Veículos, onde Guilherme matou o próprio tio, Jorge Antonio de Moraes. Ester Chagas, dona de uma lanchonete ao lado da loja de veículos, contou que Jorge era muito querido na região: “cara que chegava cedo, sempre muito amigo de todo mundo, muitos amigos, a gente vai sentir muita falta dele”.

Em frente à escola Raul Brasil, onde Guilherme e Luiz mataram sete pessoas, homenagens às vítimas foram montadas. Entre flores, velas e cartazes, moradores da região e alunos permaneciam perplexos com o crime.

A estudante Isabela de Oliveira presenciou o atentado. Ela estava na secretaria, logo na entrada da escola, quando os assassinos chegaram: “senti muito medo, desespero, pensei que ia morrer. Aí depois de tudo isso, não gosto muito de falar, porque fico lembrando”.

No momento em que viu Guilherme e Luiz, Isabela saiu correndo em direção aos fundos da escola, e se escondeu atrás do centro de línguas, até a chegada a polícia. A mãe de Isabela, Adriana Carmo Oliveira, teme que ela volte às aulas e se preocupa com o estado de saúde da filha: “não sei como que vai ser, vou procurar um médico para ajudar ela. Ela não conseguiu dormir, fica falando toda hora, lembrando do que já aconteceu”.

Na cidade de Suzano, o medo e espanto com a tragédia são os sentimentos que tomam conta dos moradores, conforme conta a diarista Márcia Nascimento, que mora na cidade há 30 anos: “uma coisa que ninguém esperava. Foi pego de surpresa, todo mundo”.

A guarda civil Luiza Barros mora em Suzano há mais de 45 anos e diz que teme por mais ataques: “nas outras escolas o pessoal está com medo de que aconteça a mesma coisa”.

Tristeza, medo e perplexidade. Para além de entender um crime que chocou a todos, a cidade de Suzano espera agora um pouco de paz.

*Informações da repórter Victoria Abel

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.