Economista critica Bolsonaro por veto ao aumento do diesel: ‘Prática longe de ser liberal’

  • Por Jovem Pan
  • 13/04/2019 10h41 - Atualizado em 13/04/2019 11h25
Elias Gomes/Jovem Pan O economista Márcio Holland foi o Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no primeiro mandato de Dilma Rousseff

A determinação do presidente da República, Jair Bolsonaro, de vetar o aumento do preço do diesel nas refinarias da Petrobras foi duramente criticada por Márcio Holland. Em entrevista exclusiva ao Jornal da Manhã deste sábado (13), o economista e Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no primeiro mandato de Dilma Rousseff classificou a decisão de Bolsonaro como “uma prática intervencionista” e “longe de ser liberal”.

“Eu acho que nós estamos falando de um problema estrutural que tem a ver com as estatais brasileiras. É a Petrobras hoje, mas pode ser o Banco do Brasil amanhã, a Caixa Econômica Federal depois… As empresas estatais brasileiras incorrem num risco recorrente, cotidiano, que a gente chama de abuso do poder do controlador. A União é controladora dessas empresas e, a qualquer hora, um governo voluntarioso toma uma decisão sobre essas empresas”, afirmou.

“O que aconteceu de o presidente solicitar a suspensão do reajuste do diesel é claramente um diagnóstico de que esse problema não acabou. Independentemente de o governo fazer um discurso liberal, a sua prática, definitivamente, está longe de ser liberal. É uma prática intervencionista, que afeta o modelo de negócio de uma companhia, afeta a política de preços de uma companhia listada em bolsa de capital aberto e afeta, portanto, o modelo de investimento, os acionistas, os minoritários. Foi uma decisão extremamente infeliz do governo”, acrescentou.

Holland disse ainda que é preciso fazer mudanças estruturais e tornar o país menos dependente do transporte rodoviário. “Definitivamente, não há muito o que fazer nesse cenário. A lição de casa que não estamos fazendo é mudar a estrutura de infraestrutura brasileira. O Brasil é um país continental totalmente baseado em quatro rodas. Esse é um grande erro do planejamento estratégico desse País. Quando falamos em intervenção para minimizar eventuais reajustes que são naturais da vida econômica de uma empresa, estamos negligenciando um ponto mais importante que é alterar estrutura modal brasileira. Estamos sempre tentando tampar o buraco, literalmente nesse assunto”, afirmou.

A decisão da Petrobras de cancelar o reajuste do diesel causou efeitos no mercado. As ações da empresa chegaram a cair 4,96% na última sexta-feira, enquanto o dólar chegou a ser cotado a R$ 3,90.

Confira a entrevista com Márcio Holland:

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