Embaixador Marcos Azambuja pede pausa nas ‘declarações emocionais’ sobre Argentina

  • Por Jovem Pan
  • 13/08/2019 09h47 - Atualizado em 13/08/2019 10h18
Alan Santos/PR Bolsonaro sempre expôs sua preferencia à reeleição de Macri

O Embaixador e pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais no Rio de Janeiro (CEBRI), Marcos Azambuja, criticou, nesta terça-feira (13), a postura que o Brasil vem adotando em relação aos resultados das eleições primárias na Argentina no último fim de semana. De acordo com ele, a atual gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL), precisa “retomar a diplomacia” e maneirar nas declarações para que boa relação com o país vizinho permaneça intacta.

“Minha preocupação é que, no momento, haja um excesso de declarações enfáticas e emocionais da nossa parte. A Argentina já tem suficientes problemas para que nós não precisemos acrescentar a nossa colher”, declarou, em entrevista ao Jornal da Manhã,

Em seguida, Azambuja explicou que o presidente pode ter preferências políticas em relação a Argentina, mas que existem formas melhores e mais sutis de expô-las para que a relação entre os países não fique comprometida. “O Brasil foi um pouco a mais na preferência pelo governo Macri. Os governos tem, naturalmente, preferências, mas raramente você se expõe de maneira tão clara na sua preferência. Você se utiliza uma série de instrumentos políticos, econômicos, publicitários para favorecer um lado, mas não se expõe de tal maneira que, caso seu candidato perca, você fique autocondenado”, disse.

“O Brasil precisa voltar à linguagem da diplomacia, temos uma amizade com a Argentina que independe da circunstância, temos que fazer política da boa vizinhança. Possuímos uma história com ausência de conflitos com o país. Não ter uma boa relação entre Brasil e Argentina é intolerável, ter uma relação hostil e impetuosa é ruim para os dois lados”, afirmou.

Para o embaixador, o ideal, no momento, seria esperar a poeira baixar e fazer declarações de apoio ao país. “Uma das vantagens da diplomacia é que ela não precisa reagir com a velocidade que a mídia quer. A diplomacia pede por reflexão, pausa, ponderação. Então o ideal é esperar um pouco para que a areia assente na Argentina antes de se pronunciar e, na hora de falar sobre o fato, ressaltar que somos vizinhos e amigos, que confiamos na Argentina e que não vamos tomar nenhuma atitude que agrave ainda mais uma situação que, para eles, já é má. Temos que exercer a solidariedade controlada e construtiva”, explicou.

Azambuja ressalta que é preciso tentar contornar a situação para que a boa relação entre os países continua acontecendo. “Tem que tentar contornar. A diplomacia é um ofício muito antigo, as regras do jogo estão estabelecidas há muito tempo, e uma delas é que não pode haver intervenção explícita em um país vizinho. É uma regra essencial”, finalizou.

 

 

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