Estuprador faz vítimas usando aplicativos de relacionamento

  • Por Jovem Pan
  • 02/10/2017 06h38 - Atualizado em 02/10/2017 11h50
Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas Agora, até mesmo aplicativos de relacionamento estão servindo de máscara para o ataque de estupradores

Casos de estupro e violência contra a mulher crescem em São Paulo. Segundo levantamento do jornal Folha de S. Paulo, com dados da Secretaria de Segurança Pública, desde 2015 aumenta o número de registros nas delegacias da cidade. Em 2015 foram 1.399 casos até o mês de agosto, enquanto no mesmo período, em 2016, foram 1.477 e, neste ano, 1.574.

Os agressores podem ser alguém estranho ao cotidiano da vítima, ou ainda estar no círculo da própria família. Alguns casos ocorrem no silêncio da própria casa, ou em um ônibus cheio. No entanto, agora, até mesmo aplicativos de relacionamento estão servindo de máscara para o ataque de estupradores.

Não há números específicos de casos de estupros depois de encontros com pessoas que se conheceram nesses aplicativos, mas uma advogada de 43 anos, que prefere não se identificar, foi uma dessas recentes vítimas.

Ela foi estuprada por um rapaz que conheceu no aplicativo Tinder, que passou a usar depois de terminar seu casamento. Segundo a advogada, foram vários dias de conversa com o agressor, que se apresentou no aplicativo como jogador de futebol. “Aconteceu comigo através do aplicativo. Eu recebi relatos de várias mulheres e depois que viralizou a questão eu recebi muitos relatos”, disse.

Precavida, pegou até mesmo os documentos do rapaz, mas depois do caso foi constatado como falsos.

A advogada descobriu isso ao conversar com outra vítima do mesmo agressor, que o conheceu em outro aplicativo, o Happn.

Um encontro na casa dela foi marcado e o estuprador a obrigou a fazer sexo anal.

Para a advogada, ficou claro para o agressor algo que infelizmente ainda comum em nossa cultura: a impossibilidade da mulher dizer não.

A advogada vê que a questão do estupro no Brasil é endêmica e foi algo que fez parar sua vida, até mesmo para se cuidar.

Os remédios que têm tomado mexeram com seu organismo, mas a vontade de mudar o ciclo de agressões mantém sua força.

A advogada ainda questiona a falta de esclarecimentos e apoio às vítimas: desde a dificuldade em fazer que os médicos especifiquem o estupro nos prontuários até o acesso aos medicamentos necessários para evitar complicações de saúde.

A acolhida nas delegacias e a forma de abordagem as vítimas quando é registrada a ocorrência também é alvo de críticas, visto a vulnerabilidade emocional de quem procura por socorro.

A assessoria de imprensa do aplicativo Tinder enviou uma resposta oficial por meio de nota, lamentou o ocorrido e se colocou à disposição das autoridades:

Estamos profundamente tristes com esta notícia, e nossos pensamentos estão com as vítimas. Pessoas mal-intencionadas existem em restaurantes, livrarias, nas redes e nos aplicativos sociais. Embora a grande maioria dos nossos usuários tenha boas experiências em nosso aplicativo, não somos imunes a malfeitores.

Encorajamos que o usuário que tenha sido vítima de crime reporte o caso para as autoridades locais. Iremos cooperar com as autoridades no que for preciso para auxiliar nas investigações. Além disso, recomendamos aos nossos usuários que conheçam nossas dicas de segurança, disponíveis online e no aplicativo, e denunciem qualquer atividade suspeita no próprio app ou pelo e-mail help@gotinder.com.

*Informações do repórter Fernando Martins

**A nota foi atualizada com a resposta do Tinder em 02/10/2017, às 10h42

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