Lula e Paes sabiam de propina para Rio sediar Olimpíadas, mas não tiveram participação, afirma Cabral

  • Por Jovem Pan
  • 05/07/2019 06h27 - Atualizado em 05/07/2019 08h58
CASSIANO ROSÁRIO/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Sérgio Cabral Ex-governador do Rio disse que pagou US$ 2 milhões para ser sede da competição

O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, admitiu pela primeira vez, nesta quinta-feira (4), que comprou votos para que o Rio de Janeiro sediasse as Olimpíadas de 2016. De acordo com ele, o ex-presidente Lula e o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes souberam da propina. As informações fazem parte de um depoimento de Cabral ao juiz federal Marcelo Bretas.

O ex-governador fluminense disse que, no total, foram pagos US$ 2 milhões em propinas ao ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo, Lamine Diack. Segundo Cabral, foi o ex-presidente do Comitê Olímpico brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, que teria indicado o nome de Diack. “Na época, o Diack, ele é uma pessoa que se abre para vantagens indevidas. O Léo fez contato, nós fizemos contato com ele, com o filho dele, que é uma pessoa que fala em nome dele, e era uma garantia aí de cinco a seis votos”, contou.

Cabral disse que Lamine Diak repassava dinheiro para membros do COI, o Comitê Olímpico Internacional. Entre as pessoas que vendiam votos estariam dois ex-atletas. “Eles me garantiram que o Serguei Bubbca, atleta famoso ucraniano, recebeu propina. Outro atleta que não é do atletismo, mas segundo eles recebeu também, é o russo Alexander Popov, grande campeão mundial.”

Os pagamentos teriam sido feitos pelo empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur. “Chamei o Arthur Soares na minha casa e expus para ele a necessidade do dinheiro para obter esses votos. Nenhum problema. Isso entra aqui na nossa configuração de compromissos, nenhum problema, foi debitado do crédito que eu tinha com ele”, lembra Cabral.

Soares foi o empresário que mais teve contratos com o governo do Rio na gestão de Cabral e, atualmente, está foragido da Justiça.

Segundo o ex-governador, o principal medo era que o Rio de Janeiro não passasse da primeira rodada de votação que escolheria as cidades que continuariam na disputa.

Em relação ao ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM), Cabral disse que ele soube do esquema, mas não teve participação. “Tem alguma coisa mais importante pra você, que está no primeiro ano do seu mandato, do que as Olimpíadas? Nós agora temos essa garantia, você tá com medo de ser derrotado? Eu também tinha esse medo. Agora esse medo tá afastado. Sabia, mas não participou de nada. Não o obriguei a fazer um contrato com Soares na prefeitura, precisa dar uma vantagem pra ele, não, nada, nada, nada.”

Ele afirmou que o ex-presidente Lula soube do esquema no momento em que o Rio passou na primeira rodada de votação, no dia 3 de outubro. “Aí o Lula falou, sentado comigo, tomando um uisquinho, já mais calmo… Ele até comentou com a dona Marisa pelo telefone. Falou: ‘Marisa, eu não tô entendendo, o Sérgio tá aqui celebrando, mas ganhamos o primeiro, tem ainda outras’. Aí eu falei, presidente, deixa eu contar para o senhor. O meu medo era não passar por essa fase. Nessa fase eu tive um arranjo político assim, assim e assado. Também não falei Arthur, falei por alto. Ele também fingiu que não ouviu e falou: ‘Bom, você está me contando um negócio que já aconteceu, tá bom, tá ótimo’.”

Sérgio Cabral prestou depoimento no processo em que é acusado de ter pago propina para influenciar na escolha do Rio como sede dos Jogos. Além dele, também são réus no processo o ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil Carlos Arthur Nuzman e o ex-diretor da Rio-16 Leonardo Gryner.

Os citados por Cabral, que foram localizados, negaram envolvimento no esquema de compra de votos.

*Com informações do repórter Afonso Marangoni 

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