Lula vê “pacto diabólico” entre imprensa e Lava Jato e diz: “se não me prenderem logo, quem sabe eu mando prendê-los?”

  • Por Jovem Pan com Estadão Conteúdo
  • 06/05/2017 10h52

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva debochou da Operação Lava Jato durante congresso regional do PT em São Paulo

EFE/Fernando Bizerra Jr. EFE - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva debochou da Operação Lava Jato durante congresso regional do PT em São Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante congresso do PT, em São Paulo, com participação do ex-presidente do Uruguai, José Mujica, afirma que há um pacto diabólico para prender petistas. Lula não deixou de criticar a imprensa, citando os casos de José Dirceu e Antonio Palocci.

“Há um pacto diabólico entre a Operação Lava Jato e os meios de comunicação. Não importa se seja verdade, é preciso castigar. E eu dizia: ‘não façam isso'”, afirmou.

Às vésperas do depoimento em Curitiba, ao juiz Ségrio Moro, na próxima quarta-feira, o ex-presidente contou estar quieto, pois vai falar no momento certo à justiça. Por fim, ironizou a Operação Lava Jato. 

“Eles estão com a tese pronta: o PT é uma organização criminosa, o Lula montou um governo para roubar até depois que ele saísse”, assumiu . “Portanto se o Lula é o lula e o governo o chefe, então ele tem que saber de tudo”.

“Diziam todo dia: amanhã o Lula vai ser preso. Amanhã, prenderam tal empresário e ele vai delatar o Lula. Amanhã o Lula vai ser preso. Faz dois anos que eu estou ouvindo isso. E se eles não me prenderem logo, quem sabe um dia eu mando prendê-los por mentir?”, ameaçou o ex-presidente.

Ouça trechos da fala de Lula AQUI.

Depoimento

A defesa de Lula solicitou à Justiça Federal, em Curitiba, para o fotógrafo do Instituto filmar a audiência do dia 10. Procuradores do Ministério Público Federal manifestaram posicionamento contrário ao pedido.

O desejo dos advogados do ex-presidente é que a câmera, durante o depoimento, focalize quem estiver falando no momento, em vez de estar parada no interrogado, como é comum nas audiências da Lava Jato.

Justiça

O petista admitiu ainda a hipótese de ser impedido legalmente de disputar a eleição e disse que, se isso ocorrer, “vamos disputar na Justiça”.

Lula não falou explicitamente sobre as declarações de Duque, mas tornou a refutar as “mentiras” das quais diz ser vítima. Segundo ele, a Lava Jato já tem uma “tese pronta” que o coloca como líder de uma organização criminosa. “O que não vou permitir é que continuem mentindo como estão mentindo a meu respeito”, disse o petista, voltando a desafiar “qualquer um” a dizer que “depositou R$ 10 ilegais” na sua conta.

2018

Às vésperas de prestar depoimento ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância, Lula disse que o objetivo da operação é “destruir a política” e aproveitou para fustigar um de seus potenciais adversários em 2018, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). “O resultado é o surgimento de um fascista que é o Bolsonaro”, disse Lula.

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), outro potencial adversário em 2018, também foi alvo de ataques. Lula chamou o tucano de “coxinha” e “almofadinha”. “Um coxinha ganhou as eleições em São Paulo se fazendo passar por ‘João Trabalhador’. Se alguém encontrar com ele pergunte se já teve uma carteira assinada na vida”, afirmou o petista.

Stand-up

O discurso de 50 minutos, no entanto, também teve momentos de humor. O primeiro foi quando emulou o deputado Paulo Maluf (PP-SP) e disse que o tríplex no Guarujá, o qual é acusado de ser dono oculto, é na verdade “três Minha Casa Minha Vida um em cima do doutro”.

O segundo momento de humor foi ao lembrar a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em janeiro. Lula contou que costumava tomar uma dose de uísque com a esposa quando chegava em casa, em São Bernardo. “No dia que fez três meses da morte dela, cheguei em casa, botei uma dose pra ela, outra pra mim. Peguei um copo com a mão esquerda, outro com a mão direita e bebi os dois”. A plateia caiu na gargalhada.

Mujica

O convidado de honra do evento foi o ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica. Em sua fala, o uruguaio criticou o sistema partidário brasileiro, disse que “a desgraça do Brasil” é a pulverização política e alertou sobre o risco de amplas alianças, como a que elegeu Lula e Dilma. “Nas políticas de alianças é preciso saber até onde vão estas alianças”, disse Mujica.

A frase foi interpretada como uma referência aos partidos que apoiaram a eleição de Dilma e depois votaram pelo impeachment da petista.

Durante o ato, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), candidato à presidência nacional do PT com apoio das correntes minoritárias de esquerda, admitiu que a também senadora Gleisi Hofman (PT-PR) já tem votos suficientes para vencer a disputa. Lindbergh, no entanto, disse que não vai retirar sua candidatura.

Regulamentação

Na sequência, Lula voltou a dizer que quer ser candidato a presidente e enfrentar “um candidato da Rede Globo” para poder falar durante a campanha sobre a regulamentação dos meios de comunicação. “Quero que tenha um candidato com um ‘plim plim’ no peito para que possamos dizer claramente que vamos regulamentar os meios de comunicação”, afirmou.

A regulamentação é um pleito antigo dos setores mais radicais do PT que tanto Lula quanto a ex-presidente Dilma Rousseff rejeitaram durante os 13 anos de mandato petista.

Agora, com o partido tentando se reconstruir diante da maior crise de sua história, setores mais amplos do PT voltaram a incluir a regulamentação da mídia em um eventual programa partidário.

Depois de ter se comparado a uma jararaca, Lula usou a cobertura sobre a Lava Jato e seu crescimento nas pesquisas para se comparar a um mandacaru, espécie de cactus típico do sertão nordestino. “O que eles não sabem é como o mandacaru sobrevive. Ele não precisa de muita água e eu não preciso de imprensa, preciso olhar nos olhos de vocês.”

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.