Márcio França: Temer falava com sindicalistas, anunciava benefícios, mas ninguém entendia

  • Por Jovem Pan
  • 01/06/2018 09h43 - Atualizado em 01/06/2018 10h25
GOVSP Governador de São Paulo, Márcio França (PSB), afirma que a comunicação burocratiza a fala e cria uma distância entre quem lidera e quem é liderado

Após assembleia entre representantes de três associações e o governador de São Paulo Márcio França, os 1.600 caminhoneiros autônomos que ainda permaneciam no Porto de Santos decidiram encerrar a greve na madrugada desta sexta-feira, dia 1º. A Polícia Militar, tropas do Exército e da Marinha, que estão no local desde quarta-feira (30) para liberar os acessos ao porto, devem permanecer para garantir a segurança e evitar novas mobilizações.

Em entrevista ao Jornal da Manhã, França revelou que foi pessoalmente conversar com os grevistas e assim conseguiu entender quais as principais reivindicações da categoria. Segundo ele, na Baixada Santista, o movimento é bem organizado, com 4 ou 5 cooperativas e cerca de 400, 500 caminhões cada um.

A principal reivindicação era sobre algo que eles consideram “uma injustiça cometida ao longo do anos”. “As grandes empresas tem direito de fazer acúmulo de créditos no ICMS do Diesel e obter benefícios, mas os autônomos não têm esse mesmo direito. Por que se daria o crédito para quem tem empresa grande? O principal tema era esse e a gente se comprometeu a fazer”, explicou França.

O governador ressalta ainda que o Estado também  se comprometeu a criar os mesmos mecanismos e dar aos autônomos uma equidade. Além disso, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) deve votar uma lei que permitirá o parcelamento do IPVA em seis vezes. “São pequenas negociações. Eu disse a eles ‘que se esticassem mais a corda, que iam ficar sozinhos’”, afirma.  “Então fizemos o acordo e depois eles até mandaram o vídeo explicando toda conversa entre eles e assim extinguiram a greve”.

Greve do WhatsApp

O governador paulista detalhou quais foram os “caminhos” utilizados ao descobrir que a greve dos caminhoneiros era horizontal e não era “patrocinada” por algum sindicato ou categoria específica.

França afirma que conseguiu estabelecer uma relação de confiança com o grupo, o que o possibilitou solicitar o desbloqueio das principais vias. A negociação foi intermediada pelo presidente da OAB, Marcos da Costa. “Ele disse que estava com um grupo de caminhoneiros que queria ter acesso ao governador (…) Eles vieram, me contaram histórias pessoais e citaram a questão do frete”, afirma.

Diante dos pedidos dos caminhoneiros, o governador disse, então, que suspenderia o pedágio para eixo-levantado a partir da terça-feira. “Mas pedi uma garantia. Eles disseram ‘qual estrada o senhor quer desbloquear?’ Pedi para desbloquear a Régis e em 30 minutos, a Régis Bittencourt estava livre”, explica. “Pedi para fazer o mesmo no Rodoanel e assim foi. Eles formaram grupos pelo WhatsApp e cada um controlava um grupo específico”.

Segundo França, as constantes mudanças no preço do diesel criaram uma enorme confusão entre os caminhoneiros. No último sábado, dia que o movimento explodiu e levou 15 mil pessoas às ruas, o preço do diesel era de R$ 3,59, mas na segunda-feira estava R$ 4,10. “O que o caminhoneiro quer saber? Vai diminuir R$ 0,46 de quais preços? A comunicação burocratiza a fala e cria uma distância entre quem lidera e quem é liderado”, afirmou. “A vida é um aprendizado constante. Precisamos encontrar outras maneiras de comunicação. O presidente Temer falava com o grupo de sindicalistas, anunciava uma série de benefícios, mas aqui embaixo ninguém entendia”.

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