O Fim da Picada: ano novo e Olimpíadas podem aumentar a transmissão do zika vírus

  • Por Jovem Pan
  • 22/12/2015 11h57
VINHEDO, SP - 01.04.2015: MOSQUITO-DENGUE: Mosquito da dengue (Aedes aegypti), conhecido como pernilongo ou pernilongo-rajado. É considerado vetor de doenças graves como o dengue, a febre amarela, a febre zika e a chikungunya. (Foto: Cadu Rolim /Fotoarena/Folhapress) ORG XMIT: 980029 Folhapress Zika vírus

 Alguns estudos sugerem que o zika vírus tenha chegado ao Brasil por uma porta aberta. Na verdade, escancarada com direito a “faixa de boas vindas” chamada Copa do Mundo. Cerca de um milhão de turistas estrangeiros, de 202 países, passaram por aqui em 2014.

A geneticista Lygia da Veiga Pereira diz: “O Aedes, o mosquito estava nadando de braçada, então no que chegou um turista para a Copa de 2014 carregando o zika, o negócio passou para todo mundo, porque rapidamente ele foi picado por um mosquito que chupou o sangue dele com zika e foi picar outras pessoas. E aí começou o negócio”.

O professor do departamento de Obstetrícia da Unifesp não compartilha da mesma opinião da geneticista. No entanto, Antônio Fernandes Moron é categórico quando alerta para o perigo da realização de grandes eventos no atual cenário.Em Copacabana, por exemplo, acontece o maior réveillon do mundo. São esperados por lá mais de dois milhões de pessoas. Em São Paulo temos a virada na Avenida Paulista que, segundo Moron, traz riscos semelhantes, já que reúne gente de todo o Brasil e, de quebra, dá de bandeja vítimas ao mosquito transmissor: “Eu acho um erro termos nesse ano a comemoração na Paulista, em Copacabana, nas praias, porque nós estamos na vigência da possibilidade do adentramento do vírus na região sudeste. Em geral a festa é feita no final do dia, quando o mosquito está ali e você vai ter um contingente de pessoas enorme, vai ter mobilidade de pessoas, pessoas que vieram do nordeste para visitar parentes e que nem sabem que estão contaminados”.

Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro seguem a mesma lógica… e ainda uma inversa. Afinal, somos um perigo para o mundo? Turistas estarão seguros aqui? Até agora não houve uma sinalização oficial das autoridades brasileiras sobre o assunto. Na verdade, a questão não está nem no recém lançado plano nacional de combate ao Aedes aegypti do governo federal.

Mas a Organização Mundial de Saúde preferiu não esperar e emitiu um alerta global com recomendações específicas sobre o zika no país. Até porque, a Europa já sofreu seu primeiro susto.

O virologista Gubio Soares explica que um estudo constatou que o zika foi introduzido na Itália em março, por um morador de 60 anos que passou férias em Salvador, na Bahia: “Como eles tem um controle muito grande, conseguiram detectar, tratar o paciente e ele não foi um foco de disseminação do vírus na Itália. Controle hospitalar é muito importante no caso de pessoas que viajam para países que tem dengue como o Brasil”.

Na opinião de Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, pesquisador do Instituto Evandro Chagas que lidera pesquisas sobre o vírus no país, o verão e as férias vão dar o ponta pé inicial para um cenário ainda mais temeroso em 2016: “A possibilidade de universalização disso no país, como ocorreu com a dengue é muito grande. Considerando que vamos iniciar o período de chuvas, mais quente, que facilita a formação de criadouros, com o fluxo turístico interno no país, a chance de ocorrer nos estados que hoje ainda não está comprovada a transmissão do zika é muito grande”.

Adicione à receita um acontecimento econômico importante: A alta do dólar! Parece estranho, mas pense: qual foi o principal destino daquele público que iria passar as férias no exterior, mas desistiu depois que os preços decolaram? Bingo! O Nordeste, que por acaso é onde está o principal foco de zika e de casos relacionados à microcefalia no Brasil.

A empresária Cláudia Ramos tinha passagem comprada desde agosto para o Recife, que decretou estado de emergência no fim do mês passado. Ela não só desistiu de passar as festas com os sogros, como já repensa os planos de assistir as competições no Rio no ano que vem: “Conversei com meus sogros e não vamos mais viajar, nem eu, nem meu marido e nem a minha filha”.

No entanto, problema é o que teremos daqui para frente se o Brasil não mudar a mira e, definitivamente, investir em pesquisas científicas que não só apagam o incêndio (como é o caso das vacinas), mas também combatem e previnem a proliferação do mosquito. E como lidamos com isso até agora? Você vai descobrir na quarta-feira, no terceiro capítulo da série especial “O Fim da Picada”.

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