Receio com resultado da eleição pode levar dólar a R$ 4,00, diz ex-ministro

  • Por Jovem Pan
  • 05/05/2018 10h47 - Atualizado em 05/05/2018 10h48
Divulgação Divulgação "Esse receio é quase inevitável, enquanto durar a incerteza política no Brasil", afirmou o embaixador Rubens Ricupero

Nos últimos dias, o Banco Central decidiu agir para amenizar a disparada do dólar e passou a atuar no mercado futuro para “suavizar movimentos no mercado de câmbio” por meio de contratos de “swap”. Apesar disso, especialistas afirmam que a moeda norte-americana deve permanecer no novo patamar atingido nesta semana, quando passou a ser cotada acima de R$ 3,50, acumulando uma alta de mais de 7%, com a possibilidade de um agravamento caso as eleições para a Presidência da República caminhem em um sentido inesperado.

“No caso do Brasil, não temos vulnerabilidades econômicas graves em curto prazo. Nosso déficit do orçamento é muito grave, mas já se sabe disso há muito tempo. Agora, o que é complicado é a situação política, o impacto que a eleição pode ter. Boa parte da incerteza, além do efeito do EUA, é em relação a eleição. Ainda vamos ter uma campanha longa, até outubro, e pode haver momentos de bastante alarme, se, por exemplo, houver receio que um aventureiro, um populista, chegue ao 2° turno, podemos ver o dólar chegando ao nível de R$ 4,00, como foi na época em que o Lula foi eleito. Esse receio é quase inevitável, enquanto durar a incerteza”, afirmou o embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda, em entrevista exclusiva à Jovem Pan.

Ricupero lembrou que o Brasil não deve sofrer os mesmos efeitos que alguns de seus vizinhos da América do Sul, caso da Argentina. Para ele, alguns fatores fundamentais diferenciam os dois países e a forma como cada um deles poderá enfrentar essa valorização do dólar.

“Na Argentina, dois fatores fundamentais são piores que aqui: a inflação, que é muito maior, e a questão da situação externa, fundamental nesse problema. Eles têm uma vantagem sobre nós, que é uma situação política mais estável. Lá, o governo se manteve no poder, enquanto aqui, tudo pode acontecer. Digo que a situação da Argentina lembra um pouco o Brasil na época do final do primeiro mandato do FHC, em 99. Ele teve que fazer a mesma coisa que os governantes estão fazendo por lá: aumentar juros a 40% ou mais”, afirmou ele.

Já sobre a situação dentro dos EUA, o ex-ministro ressaltou que o movimento já era esperado, devido ao rápido fortalecimento da economia norte-americana, que baixou a taxa de desemprego a menos de 4%, o que fortaleceu o dólar e enfraqueceu as outras moedas em um âmbito global, mas fez questão de aponta que as mudanças não se devem a chegada de Donald Trump ao comando do país.

“Ele herdou boa situação que já vinha do governo Obama. Não fez grande coisa. Única grande realização desse governo foi a redução das taxas sobre as grandes empresas, mas que, segundo os dados americanos, não produziu, como se imaginava, muitos investimentos novos. A economia americana está crescendo mais por efeito dos impulsos anteriores. Por outro lado, vem de lá algumas coisas preocupantes, como a noticia sobre o protecionismo, e o brasil já começa a sofrer os efeitos disso. Essas cotas impostas ao aço e a taxa de 10% sobre a exportação de alumínio já são dois exemplos concretos de prejuízo que o país vai ter”, finalizou Ricupero.

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