Um político de esquerda perto do fim precoce

  • Por Ulisses Neto/Jovem Pan em Londres
  • 10/02/2018 10h49
EFE/ALEXANDER BECHER Líder do SPD Martin Schulz fala durante coletiva de imprensa nesta quarta (7)

Na capital do Reino Unido nem sinal de confete, festa de rua ou qualquer coisa que se assemelhe ao carnaval. Ao contrário de outros países europeus, por aqui a data passa em branco mesmo até a metade do ano, quando milhares de pessoas celebram o Carnaval do tradicional bairro de Notting Hill. Para muitos imigrantes brasileiros, como eu, essa é uma das épocas mais duras do ano…

Mas já que por aqui não tem festa, eu vou seguir falando de política. Hoje eu vou comentar o caso de um líder de esquerda, que chegou a ser considerado favorito nas pesquisas, mas que colocou seus interesses pessoais à frente do tradicional partido de bandeiras socialistas e acabou impedido de realizar suas pretensões.

Bem que poderia ser a história de um líder brasileiro, mas na verdade o personagem em questão é o líder dos sociais-democratas da Alemanha, Martin Schulz. Assim como seu colega brasileiro, Schulz está perto de um fim precoce, ou pelo menos antes do previsto, em sua carreira política.

Só que Schulz nasceu na Renânia do Norte-Vestfália, a milhares de quilômetros do estado de Pernambuco. Então sua falência política está muito mais ligada a questões morais mesmo e a pressão partidária que a problemas com a justiça.

O líder do SPD conseguiu amarrar um acordo bastante favorável ao partido dele para formar um novo governo de coalizão na Alemanha, mantendo os conservadores e Angela Merkel no poder.

Para isso, a esquerda levou três ministérios de peso, incluindo o das Relações Exteriores, que Schulz pretendia governar. Acontece que o partido dele está em frangalhos depois de ter sofrido uma dura derrota nas eleições passadas e a verdade é que os eleitores de esquerda sequer queriam um novo governo de coalizão em primeiro lugar.

Por isso a liderança de Schulz tem sido tão contestada. E por isso pouca gente engoliu a história dele costurar um acordo que lhe garantiria uma cadeira importante no governo. Porque na Alemanha quando um líder político coloca os interesses pessoais à frente do partido, e em última instância, o de seus eleitores, não costuma pegar muito bem.

Assim sendo, Schulz se viu obrigado a renunciar por conta própria das pretensões de entrar para o governo Merkel. E os socialistas continuam num processo de tentar se reinventar para não serem engolidos por outros movimentos de extrema esquerda e, principalmente, extrema-direita, que parecem mais conectados aos interesses dos eleitores.

Um episódio da vida pública na Europa que certamente poderia servir de exemplo para a nossa política tropicana.

Um excelente carnaval a todos os ouvintes do Jornal da Manhã.

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