Declarações de Bolsonaro na TV não foram satisfatórias, avaliam comentaristas da Jovem Pan

  • Por Jovem Pan
  • 04/01/2019 15h56 - Atualizado em 04/01/2019 16h29
Wilton Junior/Estadão Conteúdo Bolsonaro concedeu na quinta-feira a primeira entrevista após a posse como presidente

As declarações de Jair Bolsonaro não foram satisfatórias na primeira entrevista após a posse, concedida a uma emissora de TV na noite de quinta-feira (3). Essa é a avaliação feita pelo time de comentaristas da Jovem Pan na tarde desta sexta (4).

Alguns temas abordados pelo presidente foram a reforma da Previdência, posse de armas e o caso Queiroz. Carlos Andreazza, Felipe Moura Brasil e Rodrigo Constantino participaram de debate mediado por Denise Campos de Toledo, no Jornal Jovem Pan.

Na TV, Bolsonaro defendeu idades mínimas de 62 e 57 anos para homens e mulheres, disse que vai publicar decreto sobre posse de armas já em janeiro e se esquivou sobre as denúncias de “movimentações atípicas” feitas pelo ex-assessor do filho Flávio Bolsonaro.

Reforma previdenciária

Na entrevista exibida pelo SBT, Bolsonaro afirmou que pretende aproveitar parte do texto da reforma da Previdência do antigo governo, de Michel Temer, pronto para votação na Câmara. Segundo ele, no entanto, a atual gestão vai “rever alguma coisa”.

Ele ressaltou que quer construir um texto viável e destacou que pretende aprovar uma idade mínima para aposentadorias de 62 anos para homens e 57 anos para mulheres, com um período de transição, planejando um “corte” até o fim de 2022.

Rodrigo Constantino avaliou como “lamentável” a fala do presidente. “Ele já está chegando para negociar numa posição de fraqueza. Me parece que a reforma que precisamos subiu no telhado. Foi decepcionante. Tudo está errado.”

Já para Carlos Andreazza, foram “desastrosas” as declarações. “Se apresenta uma reforma frouxa, com medo de oposição, é um erro político do presidente”, disse. “O liberal Bolsonaro é recente. Ele [sempre] votou com o PT contra toda reforma liberal.”

“É uma sinalização ruim”, avaliou Felipe Moura Brasil, que ponderou que o presidente nunca pregou uma mudança previdenciária muito drástica, o que seria preciso para conter gastos públicos. “É preciso ser duro no momento em que o governo precisa apertar o cinto.”

Denise Campos de Toledo, que defendeu a igualdade da idade mínima para homens e mulheres, relatou que “a repercussão do mercado financeiro foi bem negativa” diante dos posicionamentos de Bolsonaro, que indicam que “eles vão flexibilizar demais.”

Posse de armas de fogo

O presidente também aficou na entrevista que deve editar ainda em janeiro um decreto que deixará “mais clara” a definição de “efetiva necessidade” para liberação da posse de armas de fogo para a população brasileira.

“Uma das ideias [é que] nos estados em que o número de óbitos por 100 mil habitantes por armas de fogo seja igual ou superior a 10, essa comprovação de efetiva necessidade é fato superado”, disse. O texto está nas mãos do ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Essa é uma promessa de campanha que está caminhando “na direção certa”, na opinião de Constantino. Entretanto, a medida não é mais importante que a reforma da Previdência. “Se não a aprovarmos, esquece o resto, vai faltar dinheiro.”

Contudo, para Andreazza, o novo governo estaria cometendo um erro ao optar por um decreto – que pode ser provisório – em vez de tratar a questão no Poder Legislativo. “Governar com decreto é ilusão decorrente da alta popularidade, mas a popularidade baixa.”

Felipe Moura Brasil explicou que o projeto que está sendo tratado por Bolsonaro deve elencar diversos requisitos, como a declaração de residência fixa. Esse ponto não permitiria que Adélio Bispo – que estaqueou o então candidato – tivesse uma arma.

Denúncias contra Queiroz

No SBT, Jair Bolsonaro declarou que Fabrício Queiroz – investigado por movimentações atípicas em conta bancária – “sempre gozou de toda a confiança” e que fez empréstimos a ele, que “deve responder” sobre o assunto. “Eu sei que ele fazia rolo”.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou transições de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz, que assessorou o deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e não compareceu a depoimentos.

“Fica o desgaste, porque houve um repasse para a conta da primeira-dama [Michelle Bolsonaro]”, observou Felipe Moura Brasil. Para ele, a investigação deve se aprofundar porque “paira a suspeita”, sem que haja justificativas plausíveis.

Rodrigo Constantino disse que “precisa de explicação” a fase sobre “os rolos” de Queiroz. “Tudo isso é muito ruim, tem cheiro de laranja. Eu não considero satisfatória nenhuma resposta dada pela família [Bolsonaro] e pelo Queiroz.”

Já Andreazza destacou que “no melhor cenário, o gabinete de Flávio Bolsonaro funcionava bagunçado” e que “a coisa ali não cheira bem”. Ao defender apuração, afirmou que com o tempo, a tendência é o problema ser transferido do deputado para a presidência.

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