Nélida Piñon lança livro sob fantasma da morte: ‘Aprendizagem extraordinária’

  • Por Jovem Pan
  • 17/06/2019 12h07 - Atualizado em 17/06/2019 12h10
Jovem Pan Nélida Piñon foi a convidada do Morning Show desta segunda-feira (17)

Aos 82 anos, Nélida Piñon fala sobre o passado, o futuro e o presente sem rodeios. Integrante da Academia Brasileira de Letras e a primeira mulher a presidi-la, na década de 1990, a escritora lança o seu mais novo livro, “Uma Furtiva Lágrima”, obra em que ela decifra a si mesma sob o fantasma de ser devorada pela morte.

“Não necessito a ameaça da morte iminente para escrever, mas uma sentença como essa, que me deram de seis a nove meses de vida, me mobilizou e fez eu me organizar. (…) Me fez muito bem porque preparei o livro como fiz com os anteriores, achava que teria tempo para terminá-lo, de modo que foi uma aprendizagem extraordinária. Eu driblei a morte, levei em conta que ela seria agradável comigo e que eu estava preparada para recebê-la”, contou em entrevista ao Morning Show desta segunda-feira (17).

Muito lúcida e ciente dos problemas sociais, tanto do Brasil quanto do mundo, a conversa com Nélida rumou para o assunto da imigração. Descendente de galegos, a brasileira é grata por sua nacionalidade, mas compreende como natural o movimento de êxodo entre as populações.

“Hoje em dia é difícil um povo querer ficar no seu país. Há um desprendimento das tribos humanas em relação à sua terra. Graças à comunicação, as pessoas sabem que suas terras são inviáveis, não vão lhe dar nada senão uma morte precoce e o falecimento de qualquer sonho possível. (…) Não sei como a humanidade vai resolver a imigração, de certo modo você tem o direito de repudiar sua terra, mas eu entendo que o sonho nem sempre está onde você nasceu”.

A autora ainda completa que a o problema da imigração é um dos mais graves da atualidade, mas não há estadistas que resolvam a questão de forma efetiva.

Nélida reforça a importância da leitura para os jovens e lamenta a falta de educação para eles acerca do assunto. “[O Brasil lê pouco] e esse é um dado infelizmente conhecido, fruto direto da educação. Sempre pensamos a literatura como estético, mas sempre implementei o elemento ético. Em um país tão precário é preciso que o escritor encare a personalidade ética e assuma o compromisso de ajudar o jovem.”

Aos jovens, a autora ainda faz uma crítica imediata. “Percebo que cada geração cai neste erro: o jovem pensa que inaugurou o mundo, inaugurou o amor. Só ele entende de política, ou seja, ele abole com essa autossuficiência os mais velhos, quem tem mais sabedoria que eles, abole as civilizações pretéritas. Você só pode ser moderno se for arcaico.”

Confira a entrevista completa abaixo:

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