Notícias falsas e a “pós-verdade” ganham as redes sociais em 2016

  • Por Jovem Pan
  • 26/12/2016 14h40

Além do uso maior de equipamentos como tablets e smartphones Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas Internet móvel - Fotos Públicas

Em 2016, as notícias falsas e o conceito de pós-verdade conseguiram explicar os principais fatos que abalaram o mundo.

O repórter Victor La Regina conta como esses fenômenos tiveram grande impacto na eleição de Donald Trump, a saída do Reino Unido da União Europeia, a guerra na Síria e até na operação Lava Jato.

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Vamos parar por aqui.

Todas as manchetes acima são falsas.

Elas podem soar estranhas para alguns ouvidos, mas essas mentiras foram intensamente compartilhadas nas redes sociais em 2016.

A informação inverídica sobre a ex-presidente Dilma já foi replicada quatrocentas e 28 mil vezes, a falácia sobre Serra foi repassada trezentas e setenta e duas mil vezes. E a lorota sobre o Papa Francisco e Donald Trump foi a notícia mais compartilhada durante as eleições nos Estados Unidos. Mais do que as reportagens reais.

“Pós-verdade”

Essas manchetes poderiam ser ignoradas. Mas vivemos na época da pós-verdade, um conceito que afirma que os fatos objetivos têm menos influência que os apelos à emoção e às crenças pessoais.

O termo saiu das academias para dominar o debate político em 2016, como se ela explicasse fenômenos eleitorais, como Trump, a derrota do referendo da paz na Colômbia e a saída do Reino Unido da União Europeia.

A pós-verdade foi tão influente que foi escolhida pelo dicionário Oxford como a palavra do ano.

“É possível que as pessoas já usassem essas palavras antes, mas ganhou muita repercussão principalmente por causa das campanhas em torno da candidatura de Donald Trump que promoveu notícias absolutamente falsas ou amalucadas mesmo, diz Eugênio Bucci, professor da USP e colunista do jornal O Estado de S. Paulo e da revista Época.

Ele ressalta que a verdade nunca teve peso na política. E a pós-verdade não é nova, mas ficou mais evidente com as redes sociais. O botão de compartilhar se tornou uma poderosa ferramenta. Muitas vezes de uma perigosa desinformação.

“Boa parte das pessoas não se incomoda se uma notícia é falsa ou verdadeira. Parece que, antes de prestar atenção a isso, as pessoas se mobilizam porque a notícia é do agrado delas, deem apoio à em que elas acreditam ou deem reforço a uma raiva, um ódio que elas têm”, afirma o professor.

“Segurança nacional”

Nos Estados Unidos, após a eleição de Trump, as falsas notícias viraram assunto de segurança nacional. Hillary Clinton, considerada a grande vítima desse fenômeno, garante que não se trata apenas de política, mas também da vida de pessoas comuns.

Na fase final da campanha eleitoral americana, o engajamento das notícias mentirosas superou o registrado na imprensa tradicional.

O presidente Barack Obama falou publicamente que teremos problemas quando não conseguirmos distinguir mais propaganda de argumentos sérios.

Notícias falsas foram mais compartilhadas que as verdadeiras na reta final da campanha presidencial nos EUA (foto: EFE)

O democrata ainda pressionou o Facebook a tomar medidas. Mark Zuckerberg, diretor da rede social, a princípio, negou essa desinformação, mas depois anunciou que no ano que vem as reportagens com informações contestadas exibirão um alerta ao usuário que quiser compartilhá-las.

Checagem

Para a jornalista Tai Nalon, criadora do site Aos Fatos, que checa desde declarações de políticos a manchetes sensacionalistas, a medida é um avanço.

“Tem uma série de formas de você pensar, se informar melhor, criar um pensamento crítico, sustentar mais as informações que você vê”, diz Nalon. “Buscar o contraditório é importante e talvez diminua um pouco esse clima de radicalismo que a gente vê”.

O site criado por Tai faz parte de uma rede internacional de agências de checagem que será acionada pelo Facebook neste novo serviço.

No Brasil, além do Aos Fatos, a Agência Lupa também pertence à organização.

O serviço aqui é igualmente árduo. Um levantamento do site BuzzFeed indicou que as dez notícias falsas sobre a Lava Jato mais compartilhadas em 2016 superam em quantidade de interações as dez notícias verdadeiras sobre a operação.

A preocupação é ainda maior quando o país vive a maior crise de sua história e as eleições de 2018 já começam a bater na porta.

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