Operação Lava Jato virou “Operação Lava Dilma”

  • Por Jovem Pan
  • 17/07/2015 11h12

O ex-ministro da Casa Civil Pedro Ladeira/Folhapress O ex-ministro da Casa Civil

Reinaldo, você está surpreso com os desdobramentos da Lava Jato?

Sei o quanto fui e sou criticado, desde sempre, por não tratar Rodrigo Janot e Sergio Moro como heróis. Aqui e ali me advertem sobre difamadores profissionais. Aliás, dispensem-se. Não os leio nem me interessam. De verdade! Podem tirar a calça pela cabeça. O que tenho afirmado aqui desde sempre? Que, dada a toada, a versão que se vai consolidar sobre o petrolão é a de que empreiteiros malvados se juntaram com parlamentares safados — a esmagadora maioria de segunda linha — e funcionários corruptos da Petrobras para assaltar o país. O fato de José Dirceu e João Vaccari Neto estarem entre os investigados não muda nada.

E, no entanto, tenho perguntado aqui: foi isso o que aconteceu? Cadê o Poder Executivo nessa história, senhor Janot? Cadê o governo federal, Moro? Devo mesmo acreditar, dados os inquéritos, que era o PP quem decidia os destinos da Petrobras e comandava o assalto à estatal e ao Estado de Direito?

No dia 8 de março, logo depois de divulgada a lista de Janot, escrevi aqui um post cujo título era este: “OPERAÇÃO LAVA-DILMA – Planalto ajudou a ‘pensar’ a Lista de Janot. Zavascki carimba o ‘nada consta contra a presidente’. Cunha e Renan reagem. Ou ainda — Silvio Santos pergunta sobre a relação Janot-Cardozo: ‘É namoro ou amizade?’ A plateia decide”

Eu me referia, obviamente, ao encontro entre o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o procurador-geral da República — um encontro fora da agenda — que antecedeu a divulgação da tal lista.

Eu reproduzo um trecho daquele texto: “Voltem à lista. Aquela penca de pepistas lá citados é irrelevante porque pepistas são irrelevantes. Ponto. No PT, Gleisi Hoffmann e Humberto Costa têm alguma importância — ele é líder da bancada no Senado —, mas ninguém ateará fogo às vestes pela dupla. Já o PMDB… Pois é: Janot encontrou, até agora, apenas sete peemedebistas que estariam enrolados no caso: um é presidente da Câmara, e o outro, do Senado. O PT comanda a República há 12 anos, aparelha até batizado e velório, e o petista mais graduado a ser investigado, por enquanto, é… Humberto Costa!”

Reproduzo outro: “Convenham: o que se tem até aqui da ‘Operação Lava-Dilma’ já é uma enormidade, não? Reparem, meus caros: até agora, o petrolão não tem um centro político. Até agora, neste Oscar de Roteiro Adaptado, empresários maus e cúpidos se reúnem para subornar servidores pervertidos, que repassavam (depois de tirar o seu) o dinheiro para um bando de parlamentares, a maioria do…PP!!!”

Quem acredita nessa patacoada?

Seja no caso do petrolão, seja no caso das pedaladas fiscais, o que se nota é uma clara determinação da Procuradoria-Geral da República de preservar a presidente. Janot sabe muito bem, porque se trata de jurisprudência do Supremo, que se pode, sim, abrir ao menos um inquérito para investigar eventuais ações irregulares da mandatária. Mas quê… Há mais: e o pedido encaminhado pela oposição, com base no Artigo 359 do Código Penal, para que se apure a lambança contábil do governo? De quanto tempo ele precisa para dizer “sim” ou “não”?

Os desdobramentos estão aí. Ora, tenham a santa paciência! Depois de tudo o que sabemos da Operação Lava Jato; depois de tudo o que sabemos sobre a Petrobras; depois de tudo o que sabemos sobre o aparelhamento do estado, que seja o Palácio do Planalto a comemorar o andamento da investigação e os desdobramentos desta quarta e quinta, eis o mais dileto fruto da Operação Lava Jato, comandada por Rodrigo Janot e Sergio Moro.

É tudo lamentável para o país, sim. Mas eu estava certo, e os que me atacaram, nesse particular ao menos, errados. Eu sempre achei, dados os pressupostos, que a Operação Lava Jato chegaria aqui. E chegou: a cúpula do Legislativo contra a parede e o Poder Executivo sem ter de responder a nada.

Janot está de parabéns! Não é qualquer um que conseguiria realizar esse trabalho, do agrado do Planalto, e ainda posar de herói da resistência. Aqui não. Aqui não será.

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