‘Entre tirar madeira e ver o filho morrendo de fome, o que a pessoa vai fazer?’, diz Salles sobre desmatamento

  • Por Jovem Pan
  • 26/04/2019 19h22 - Atualizado em 26/04/2019 20h33
Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi o convidado de Os Pingos Nos Is nesta sexta-feira (26)

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, comentou o combate ao desmatamento ilegal, principalmente na Amazônia, em entrevista ao Os Pingos nos Is, nesta sexta-feira (26). Salles explicou que o desmatamento acontece por uma série de questões e, às vezes, é a única forma da população da região sobreviver. “Entre tirar madeira e ver o filho morrendo de fome, o que a pessoa vai fazer?”, questionou.

Segundo o ministro, a radicalização de leis de proteção ambiental também contribui para esse cenário. “Toda vez que você radicaliza uma postura, joga a pessoa para a ilegalidade”, afirmou, ressaltando que o desmatamento ilegal deve ser combatido. Ele usou as unidades de conservação como exemplo. “As unidades de conservação têm que conviver com as pessoas no entorno, se não, você transforma as pessoas em seres indesejados”, explicou, lembrando que as pessoas que moram na região usam a floresta como principal meio de sustento. “Você não pode condenar essa população que vive na Amazônia à pobreza absoluta.”

Salles também criticou a demarcação de terras nos governos do PT. “A esquerda, muitas vezes por questões ideológicas e muitas por questões econômicas, demarcou uma série de áreas sem fundamento”, disse. Um dos objetivos da pasta é rever as demarcações unidade de conservação. “Em última análise, podemos revogar a unidade de conservação”, afirmou.

O ministro do Meio Ambiente destacou o desaparelhamento do ministério como missão. “Um dos nossos desafios é desfazer as coisas erradas que foram feitas”, disse. Ele afirmou que a pasta foi tomada pela ideologia de esquerda nos últimos 20 anos. “Precisamos desmontar essa armadilha que se criou na agenda ambiental. Não podemos deixar a agenda ambiental ser levada por essa tentativa de esquerdizar o tema.”

O desaparelhamento passa principalmente pelo Ibama, um dos principais órgãos controlados pelo ministério. Salles reconheceu que muitos funcionários são qualificados para desempenhar suas funções, mas classificou outros como “radicais”. “Alguns são radicais, usam pareceres técnicos para colocar sua ideologia contrária ao setor privado, ao agronegócio”, disse. “Felizmente é um pequeno grupo, mas que faz muito barulho”, afirmou.

Mudanças climáticas

Além de desfazer as coisas erradas feitas no passado, outro objetivo de Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente é cuidar das áreas urbanas. Para isso, ele pretende melhorar o saneamento básico no país e resolver a questão do lixo. “O lixo no Brasil é uma das maiores desordens nacionais, um problema completamente descontrolado em todos estados”, disse.

O ministro afirmou que prefere gastar seu tempo e energia nesse tema do que em outros, como as mudanças climáticas. “Quando você coloca dinheiro, energia, esforço e tempo para discutir mudança climática, você deixa de fazer outras coisas”, explicou. Ele criticou os governos anteriores pela participação e o financiamento de grupos que discutiam o tema em conferências no exterior. “Pergunta para o cara que mora na favela se ele está preocupado com a reunião sobre o clima em Paris ou se quer canalize o córrego perto da casa dele”, exemplificou.

Salles disse que as medidas do seu plano de qualidade ambiental urbana vão contribuir para frear a mudança climática, mas ressaltou que o Brasil não tem culpa no que vem acontecendo com o planeta. “O Brasil não é o responsável pela mudança climática”, afirmou. “Somos 3% do volume de gás de efeito estufa no mundo. Vamos policiar menos.”

Por fim, o ministro pediu para que o Brasil tivesse mais autoestima na questão ambiental. “Nenhum desses países que vivem dando lição de moral no Brasil tem um código florestal como o nosso”, disse. “Nós não devemos nada para ninguém.”

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