‘O povo brasileiro não votou no Bolsonaro para consertar a Venezuela’, diz Glenn Greenwald

  • Por Jovem Pan
  • 25/02/2019 14h56
Jovem Pan Glenn Greenwald foi o convidado do Pânico nesta segunda-feira (25)

O jornalista Glenn Greenwald, vencedor de um Pulitzer e famoso por ter divulgado o escândalo de espionagem divulgado por Edward Snowden envolvendo o governo americano, afirmou que países como Brasil e Estados Unidos, envolvidos na crise na Venezuela, querem derrubar o ditador Nicolás Maduro apenas por interesse próprio. “Libertar o povo sempre parece muito lindo, mas o resultado é muito feio. É muito fácil provocar uma guerra quando você está interferindo em outros países”, disse Greenwald em entrevista ao Pânico nesta segunda-feira (25).

Para ele, a intenção dos Estados Unidos é muito clara: controlar o petróleo produzido pela Venezuela. “Eles não estão escondendo seus motivos, não estão querendo ajudar o povo venezuelano”, afirmou o jornalista. Já o interesse brasileiro é ideológico. “O governo do Brasil não tem problema nenhum com ditadura, o que não gosta é que a ditadura da Venezuela é de esquerda”, cravou. “Eles querem mudar a ideologia, o [Jair] Bolsonaro tem essa obsessão da luta contra o comunismo. Mas o povo brasileiro não votou no Bolsonaro para consertar a Venezuela, votou para consertar os problemas muito graves daqui”, explicou.

Greenwald ainda falou sobre Maduro impedir que a ajuda humanitária entre no país. “Todos os países do mundo não deixariam governos estrangeiros que os estão ameaçando mandar coisas para o país”, justificou. “O Bolsonaro mandou os médicos cubanos embora porque eles eram uma ameaça”, disse.

Apesar de não defender Maduro, Glenn Greenwald disse que “ditadura” é uma palavra imprecisa para definir o que acontece na Venezuela. “Eu não apoio o Maduro, mas não é o governo dos Estados Unidos e do Brasil que deve decidir os assuntos da Venezuela”, esclareceu.

Caso Snowden

Em 2013, Glenn Greenwald ajudou a divulgar o escândalo de espionagem denunciado pelo ex-agente da NSA Edward Snowden, quando trabalhava no jornal britânico The Guardian. O jornalista confessou que teve muito medo de publicar o caso. “Quando você vê alguém tão corajoso, isso te inspira a ter coragem”, disse.

No entanto, Greenwald afirmou que ainda tem medo de ser atacado no Brasil. “Uma das nossas melhores amigas, Marielle Franco, foi assassinada, até agora ninguém foi preso”, lembrou o jornalista, que é casado com o deputado federal David Miranda (Psol), suplente que assumiu a vaga de Jean Wyllys. “O presidente da República foi atacado com faca, quase morreu. Seria ridículo se eu falasse que não tenho medo, claro que tenho, conheço os riscos, mas todo trabalho tem riscos”, desabafou.

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