Confira duas redações ‘modelo’ do Enem 2018

  • Por Jovem Pan
  • 04/11/2018 18h34
Eduardo Carmim/Estadão Conteúdo Enem terá dois dias de prova 4 e 11 de novembro

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano foi “manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”. Com exclusividade à Jovem Pan, professores do Descomplica Vestibulares, prepararam duas “redações modelo” com base no tema e nos textos motivadores da prova deste domingo (4) – confira abaixo.

Os 5,5 milhões de inscritos receberam como apoio materiais que citavam algoritmos e também a exibição de conteúdos relevantes a partir do que clicamos ou curtimos online, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Na internet, o tema foi criticado por internautas que consideraram o tema complexo, apesar de atual.

Redação modelo 1:

Liberdade Coercitiva

A partir de meados do século XX, inicia-se uma nova fase de processos tecnológicos: a Terceira Revolução Tecnológica e o advento da internet. Se o ambiente virtual, outrora, assustava por ser desconhecido, atualmente os usuários estão imersos no ciberespaço, onde, por exemplo, compram, vendem, se relacionam e dão permissões de acesso às suas informações indiscriminadamente. Nesse sentido, não é razoável que indivíduos não tenham amplos poderes sobre seus dados pessoais, o que acarreta hostilidade e insegurança na internet.

A priori, é importante ressaltar que a amplitude do ambiente virtual pode ser danosa à liberdade. Os algoritmos de sites e aplicativos agem de forma coercitiva: captam aspectos do internauta e criam uma bolha, um simulacro de lugar confortável, em que músicas, postagens, páginas são sugeridas ao usuário, fazendo, assim, com que ele perca autonomia de escolha e seja submissível e influenciável. Assim, no período eleitoral brasileiro, o então presidenciável Jair Bolsonaro foi beneficiado por empresas que compraram pacotes de envio de mensagens por whatsapp para a disseminação de Fake News,dentre os compradores, Luciano Hang, dono da Havan, conforme noticiado na “Folha de São Paulo” e no “El País”.

Outrossim, a utilização de dados para manipular sujeitos podem causar o “Efeito de Manada”. Dessa forma, indivíduos de um grupo reagem da mesma forma, embora não haja direção planejada, deixando clara a perspectiva alienada e a propensão a ser massa de manobra. Fabrício Benevenuto, professor da UFMG explica que essa padrão comportamental é baseado na vontade de o indivíduo se isentar de responsabilidades quaisquer e dar mérito às escolhas dos outros indivíduos. Sendo assim, o Marco Civil da internet, que visa a regulamentação das tramitações online a fim de preservar o cidadão não dá conta dessa tarefa, pois é nessa esfera que a propagação e utilização de informações para doutrinar os seres.

Impende, portanto, que a manipulação dos dados das pessoas é uma questão de liberdade de pensamento e, por isso, direito do cidadão. Cabe ao Ministério da Educação a implementação de programas e alterações nos currículos básicos a fim de que haja literacia digital, para que todos sejam autônomos. Paralelamente, O Marco civil da internet deve ser repensado pelo Poder Judiciário a fim de aumentar fiscalização das corporações que se utilizem de informações com má fé e penalizá-las, quando necessário, visando o bem estar social conforme prevista na Constituição Federal de 88.

Redação modelo 2:

Liberdade Paradoxal

“Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade”. A reflexão de Albert Einstein em meados do século XX se faz presente no cenário atual, com o advento da internet. Embora a ampliação dos meios de comunicação virtual, além da exposição demasiada se seus usuários exista, a insegurança sobre as informações transmitidas no ciberespaço, atrelada à insuficiência de políticas públicas garantidas na decisão própria, fragiliza o internauta.

Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que, por mais que os indivíduos tenham autonomia de ir e vir no ambiente virtual, não há pleno conhecimento do caminho de seus dados disponibilizados, tampouco da relação algorítmica que lhes é traçado. Como visto no caso Cambridge Analytica, ocorrido em 2016, em que a empresa britânica utilizou informações acessíveis pelo Facebook para promover a candidatura do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Essa relação paradoxal entre a exposição indevida da privacidade de cada usuário cibernético, através de seus gostos e preferências, ratifica a fragilidade construída através da falsa sensação de poder de escolha.

Apesar da vulnerabilidade criada pelo controle de dados, medidas protetivas já existem no cenário global e brasileiro, no entanto, fazem-se insuficientes no que tange à liberdade de escolha. Segundo dados do IBGE, no Brasil, pouco menos de um terço da população acima de dez anos já teve contato com a internet, sendo, em sua maioria, interação através das redes sociais. Não obstante do idealismo platônico, a sutil filtragem de notícias, músicas e filmes concretiza ao homem sua própria caverna, sem abranger as multiplicidades existentes no mundo on-line, tornando-o influenciado por uma realidade inexistente.

Impende, pois, que o século XXI é pautado por uma contraditoriedade entre a necessidade de informação e a doutrinação em massa. Assim, faz-se necessário a ampliação de medidas que protejam os indivíduos para além da liberdade de expressão, mas que os assegurem de não serem delimitados por filtragens sistemáticas. A lei do Marco Civil da Internet, então, deve regulamentar e multar empresas que selecionam o perfil de seus usuários, com a finalidade de garantir sua devida autonomia. Além disso, as escolas devem institucionalizar a disciplina de letramento digital, para que os jovens futuramente gozem do direito da liberdade de pensamento. Somente deste modo a relação do homem com a tecnologia não será excedida, como disse Einstein, mas sim, equilibrada.

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