Entenda os últimos acontecimentos que levaram Lula ao centro da Lava Jato

  • Por Jovem Pan
  • 04/03/2016 09h43
Brasilia -Lula recebe representantes do Conselho Nacional da Juventude na data em que se comemora o Dia Internacional da Juventude. Durante o encontro no CCBB, o presidente assina decreto de convoca‹o da 2» Conferncia Nacional de Juventude, a ser realizada em 2011. A primeira conferncia, que ocorreu em abril de 2008, em Bras’lia, mobilizou mais de 400 mil pessoas em todo o Pa’s. Antonio Cruz/Agência Brasil - 12/08/2010 Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - ABR - 2010

Uma operação que começou num aparentemente pequeno caso de lavagem de dinheiro em um lava-jato e chega ao antigo homem mais poderoso da República. Como foi a escalada da Operação Lava Jato até bater às portas do ex-presidente Lula?

Do esquema de desvios em contratos da Petrobras que visavam também a contas de partidos, a compra da refinaria de Pasadena, o possível uso de imóveis como favorecimentos de empreiteiras, a prisão do seu marqueteiro João Santana, o mais recente vazamento de trechos da delação premiada de Delcídio Amaral, até, finalmente, a condução coercitiva do ex-presidente na 24ª fase da Operação, Lula foi perdendo o sono aos poucos.

Logo na primeira fase da Lava Jato, que está prestes a completar dois anos (foi deflagrada em 17 de março de 2014) a Polícia Federal prendeu o doleiro Alberto Youssef. Ele seria, em agosto do ano seguinte (2015), em plena corrida presidencial, um dos primeiros a ligar diretamente o nome de Lula às investigações.

O doleiro disse que o ex-presidente e a presidente Dilma tinham conhecimento do esquema de desvios na Petrobras. A Lava Jato ampliava à época sua atuação, visando aos maiores empreiteiros do País. As investigações já apontavam como funcionava o modelo de desvios na Petrobras.

ESQUEMA DE REPASSE E DOAÇÕES

O ex-diretor da companhia petrolífera, Paulo Roberto Costa, detalhou aos policiais que 3% dos contratos da Petrobras eram desviados em forma de propina a três partidos especialmente: PT, PMDB (seu principal aliado na administração federal) e o PP. Os repasses eram feitos por meio de lavagem de dinheiro em contas no exterior (por intermédio de Youssef, por exemplo) e também através de doações oficiais de empreiteiras aos partidos envolvidos no esquema.

Com a revelação de que doações a partidos declaradas ao TSE eram usadas para pagar propina às siglas, as contas oficiais dos principais partidos envolvidos também foram questionadas. Nesse meio termo, durante a Operação, o Supremo Tribunal Federal aprovou a proibição do financiamento empresarial de campanhas políticas, o que já vale para 2016.

A prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que cobrava doações de empreiteiros, foi o maior cerco aos líderes do PT nessa linha de investigações.

As principais empresas de construção do país, como Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Andrade Guttierrez, entre outras, formavam um cartel (conhecido como “clube do bilhão”), que acordava quem abocanharia os principais contratos da Petrobras e por um preço superfaturado.

PASADENA E INDICAÇÕES

Em paralelo a isso, era investigada a compra da refinaria de Pasadena, nos Texas (EUA), investimento que deu um grande prejuízo à Petrobras. A petroleira brasileira comprou em 2006 50% da refinaria americana por R$ 360 milhões, sendo que um ano antes a belga Astra Oil pagou R$ 42,5 milhões pela refinaria inteira. Após uma briga judicial, a Petrobras acabou desembolsando em 2008 US$ 1,18 bilhão pela refinaria inteira, um prejuízo astronômico.

À época, Lula era o presidente da República e Dilma era a presidente do Conselho de Administração da companhia, que definia negócios do tipo. Lula e Dilma sempre negaram que tinham conhecimento do tamanho do mau negócio, que teria sido conduzido por relatório fraudulento do ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró.

As indicações políticas desses diretores que participavam ativamente dos desvios na companhia passaram a ser questionadas e investigadas.

Os contatos espúrios entre as empreiteiras e políticos que poderiam beneficiá-las foram revelados. Em março de 2015, 47 agentes públicos (entre os quais o presidente da Câmara Eduardo Cunha e o presidente do Senado, Renan Calheiros) foram indiciados ao STF, uma vez que contavam com foro privilegiado. Deputados e senadores, ex-ministros e ex-governadores estavam entre eles, aproximando o núcleo político da Operação.

Nesse contato político/empreiteiras, foram alvos de apuração contratos supostamente superfaturados de palestras que agentes políticos como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o próprio Lula davam às empreiteiras investigadas, como possível método de repasse de benefícios. Viagens internacionais pagas pelos empresários também foram escrutinadas.

BUMLAI

Em novembro de 2015, foi alvo da Lava Jato e preso o pecuarista bilionário José Carlos Bumlai, em clara aproximação ao ex-presidente. Bumlai era amigo de Lula e tinha livre acesso ao Palácio do Planalto quando esse estava na Presidência. 

À Polícia Federal, Bumlai confessou que doou R$ 12 milhões, tomados emprestados do banco Schahin, para o caixa dois do PT. Metade do valor seria destinado ao PT de Santo André, no ABC paulista, onde o partido teria sido chantageado pelo empresário Ronan Maria Pinto, que ameaçava envolver oficialmente o Partido dos Trabalhadores ao caso Celso Daniel.

Bumlai, mais recentemente, foi apontado como quem tomou a iniciativa de reformas no sítio de Atibaia do amigo de Lula.

OS FILHOS E A “COMPRA” DE MPS

Enquanto isso, em investigação paralela, a Operação Zelotes da Polícia Federal fez busca e apreensão na empresa, supostamente de marketing esportivo, do filho de Lula, Luis Claudio. A LFT Marketing Esportivo recebeu R$ 2,4 milhões para prestação de serviços questionáveis da empresa Marcondes & Mautoni Empreendimentos, que pertencia ao lobista Mauro Marcondes Machado.

O objetivo do repasse seria benefício em favor da aprovação por parte de Lula, à época na Presidência, da Medida Provisória 471, que estendia benefícios fiscais de carros produzidos nas regiões norte, nordeste e centro-oeste do País.

OS IMÓVEIS E A APROXIMAÇÃO FINAL

Foram descobertas, então, reformas bancadas pela OAS em um apartamento tríplex no Guarujá que teria Lula como destinatário (a família não chegou a comprar o imóvel). O prédio inteiro no litoral paulista está na lista daqueles que foram repassados a empreiteiras pela Bancoop, cooperativa habitacional que deixou muitos investidores na mão, e chegou a ser presidida por Vaccari Neto.

O Ministério Público de São Paulo também investigou o apartamento no Guarujá e chegou a convidar Lula a depor. O ex-presidente se negou a fazê-lo pessoalmente e mandou explicações por escrito.

O sítio de um amigo de Lula em Atibaia também teve reformas e “presentes” pagos por empreiteiras. A compra de pedalinhos por assessor direto de Lula e a instalação irregular de uma antena de celular da Oi nas proximidades também foram revelados pela imprensa.

Houve também, na 23ª fase (penúltima) da Operação, a prisão recente do marqueteiro de campanhas de Lula e Dilma, João Santana, além de sua mulher, cujas empresas de publicidade teriam recebido ilegalmente no exterior valores de empreiteiras que poderiam estar ligados ao esquema de corrupção e troca de benefícios.

Por fim, vazou nesta quinta (03) trechos do depoimento de delação premiada do ex-líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, que envolvem diretamente Lula e a presidente Dilma. Segundo a revista Istoé, Lula teria tentado silenciar Nestor Cerveró sugerindo um pagamento para o ex-diretor da Petrobras. Envolvimentos envolvendo o mensalão, de 2005, também foram citados por Delcídio. A delação, ainda não homologada pelo STF, não foi usada ainda, por entanto, pela Polícia Federal na nova fase da Lava Jato.

Muitos desses aspectos que se aproximam do ex-presidente ainda não foram levados em conta na condução coercitiva de Lula na 24ª fase da operação, que investiga mais especificamente o recebimento de Lula de benefícios de empreiteiras. O Instituto Lula e sua empresa de palestras também são investigados neste momento.

O Ministério Público Federal divulgou nota nesta sexta que diz: “O ex-presidente Lula, além de líder partidário, era o responsável final pela decisão de quem seriam os diretores da Petrobras e foi um dos principais beneficiários dos delitos. De fato, surgiram evidências de que os crimes o enriqueceram e financiaram campanhas eleitorais e o caixa de sua agremiação política”.

Os mandados da 24ª fase da Operação foram apenas de busca e apreensão e condução coercitiva, quando obriga o investigado a depor.

A se conferir se o depoimento de Lula e a sequência das investigações darão novos passos em direção aos mais altos gabinetes da República.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.